Porto Alegre, domingo, 29 de setembro de 2024
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Memorabília: Ai que saudades do Mário; por Márcio Pinheiro*

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Artista de muitos talentos, Mário Lago espalhou sua arte pela televisão, pelo teatro, pelo cinema e pelo rádio. Também foi um brilhante compositor e intérprete da música popular, publicou livros de contos e memórias e desempenhou um corajoso papel de ativista político.

Toda essa versatilidade surgiu de forma natural na vida de Mário Lago, nascido na Lapa, no Rio de Janeiro, em novembro de 1911, filho de um maestro, autor de operetas de sucesso, e neto de um anarquista, ex-combatente nas tropas de Garibaldi na Itália. Ainda na adolescência, passou a frequentar os cabarés da região e a conviver com figuras como Noel Rosa e Aracy de Almeida.

Formado em Direito, Mário nunca exerceu a profissão. Nos anos 1940, já fazia parte do cast da rádio Nacional. Em 1954, quando já era um nome de peso no rádio (tanto pelas canções que compunha quanto pelas novelas que interpretava ou narrava, como O Direito de Nascer), Mário começou a trabalhar na TV. A estreia foi no programa Câmera 1, da extinta TV Tupi. Depois do golpe de 1964, por conta de sua ativa participação política, Mário passou a sofrer perseguições e foi proibido de continuar atuando em rádio. A partir de 1966, passou a fazer parte do elenco da Globo – brincava que continuava comunista, mas que agora contava com a tolerância de Roberto Marinho. O Sheik de Agadir foi sua primeira novela e, depois disso, Mário entrou no período mais produtivo e de maior visibilidade que teve em sua carreira. Por mais de três décadas, atuou em mais de cem novelas, minisséries e seriados, como Elas por Elas, Dancing Days e Pecado Capital. Em sua homenagem, Gilberto Gil fez a música O Velho, o Mar e o Lago, em que canta: “Rugas no rosto moreno / Ondas no lago sereno / Vento repentino / Ares de menino / O velho Mário Lago / O velho, o mar e o lago / O mar e o lago”.

Além de grande ator, Mário Lago foi um nome importantíssimo na música brasileira. Ainda jovem, começou a escrever para o teatro de revista, gênero no qual criou peças de sucesso. Nessa época, começou seu trabalho ao lado do pianista e compositor Custódio Mesquita, um de seus principais parceiros (o outro seria Ataufo Alves). Sua estreia como letrista foi com Menina, Eu Sei de uma Coisa, parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de Nada Além, da mesma dupla de autores.

Autor de outros sucessos como Atire a Primeira Pedra e Fracasso, Mário Lago entrou para a história como criador de dois clássicos com nomes de mulher: Aurora (com Roberto Roberti), que Carmen Miranda popularizou nos Estados Unidos, e Ai, que Saudades da Amélia, samba com Ataufo Alves. Na última, a descrição daquela mulher idealizada ficou tão popular que “Amélia” tornou-se sinônimo de mulher submissa, resignada e dedicada aos trabalhos domésticos. Mário Lago morreu em maio de 2002, aos 90 anos.

 

*Márcio Pinheiro, jornalista, escritor,  publisher do AmaJazz e pai da Lina.