“O que esperar de 2021, numa visão do ‘Pedro economista’ e do ‘Pedro cidadão’?” A pergunta recebeu resposta que reflete a opinião da grande maioria da sociedade brasileira, mais que isso, um desejo: mais liberdade para empreender, mais investimentos, carga tributária justa e retomada do crescimento.
Essa foi a abordagem do mestre e doutor em Economia, Pedro Ramos, na palestra online gratuita “Cenários econômicos para 2021 – Pós-pandemia”, organizada pela CIC Teutônia, com apoio do Sicredi, na noite de 02 de dezembro. “Difícil responder essa pergunta. Escolhi ser economista com menos de 15 anos, o ‘Pedro economista’ e o ‘Pedro cidadão’ são praticamente o mesmo, mas é claro que eu tenho as minhas preferências e o que mais me atinge como cidadão. Desejo que o Brasil possa voltar às grandes reformas, que torne a economia mais livre para se empreender e poder tomar decisões. O orçamento do governo também deve ser mais flexível, de modo que possamos diminuir ao longo dos anos despesas com grandes contas. Hoje, praticamente todo o orçamento é tomado por previdência e folha de pagamentos, sobrando pouco para investimentos que atendam às necessidades da população e para que a economia ‘saia do papel’. Claro que fazer privatizações e concessões já ajuda muito nisso, inclusive desonera o governo de fazer esse trabalho. Já a reforma tributária é muito importante para que haja mais equidade fiscal, tendo uma carga tributária de acordo com a renda, e não os mais pobres sendo mais tributados que os mais ricos”, resumiu Ramos.
Ao mesmo tempo, considerando o noticiário recente, o economista mencionou a segurança pública. “Que sejam encabeçadas medidas que auxiliem o país a combater a criminalidade, com leis penais e investimentos para coibir a violência urbana. Se pudéssemos ter um país mais seguro, o povo brasileiro seria mais feliz.”
Vencendo a pandemia
O palestrante estima um ano com taxa de crescimento positiva em 2021, diante da queda registrada em 2020. “É um ano em que provavelmente vamos vencer a pandemia a partir das vacinas. No entanto, não será um ano fácil, ainda será bastante desafiador, principalmente na primeira metade do exercício. Por conta da atividade econômica mais difícil, com pessoas não podendo sair livremente na rua e adotando outros comportamentos de trabalho e consumo, ainda teremos uma dinâmica de crescimento baixo”, resumiu.
O PIB brasileiro de 2020 deve registrar queda entre 4,5% e 5%, enquanto que em 2021, com uma expectativa de retomada, o projetado de crescimento está em torno de 3,5%. “A maior parte desse crescimento será construída ainda dentro de 2020, com uma recuperação das atividades muito rápida no fim do ano.”
Agronegócio como esteio
O agronegócio deve seguir como esteio da economia brasileira. No Rio Grande do Sul, Ramos alerta para os desdobramentos da estiagem, que ocasiona problemas no plantio. “Os preços pagos especialmente nos setores de suínos, bovinos, soja, milho, trigo e arroz têm tido um resultado muito favorável”, valoriza, acrescentado que o setor industrial registrou aquecimento a partir do direcionamento de renda das famílias, além do auxílio provido pelo governo às famílias.
“Em 2021 a indústria deve moderar mais o crescimento e o agro deve continuar uma expansão muito boa. Esse quadro é construído a partir de uma retomada muito forte do crescimento chinês, que foi sustentado por estímulos fiscais do governo e no próximo ano deve manter esses estímulos, com crescimento da ordem de 8% da economia chinesa”, adiantou.
Câmbio
A moeda brasileira desvalorizou muito durante a pandemia, gerado por fator de aversão ao risco. Para o economista, a avaliação é de que, passada a pandemia, veremos uma grande valorização cambial em todas as moedas emergentes. “Mas, o Brasil não é candidato a um grande recuo, pois ainda temos uma taxa de juros muito baixa, se tornando pouco atrativo. Por outro lado, veremos que o desafio fiscal ainda é muito presente e, se tivermos o desarranjo, esse câmbio ainda pode ir mais para cima.” Em números, a possibilidade é de recuo da taxa de câmbio para algo em torno de R$ 5,10.
Taxa de juros
Ramos prospecta taxa de juros de 2% no início do próximo ano, com altas graduais que devem elevar esse indicador a próximo de 3,5%. “A visão é de que a economia vai perder fôlego na virada do ano com a redução dos estímulos econômicos, e esse ímpeto inflacionário que vemos hoje ainda seguirá por um tempo em 2021, mas deve ser dissipado. Nesse sentido o Banco Central vai fazendo uma normalização da taxa de juros de forma bastante gradual. O cenário de 2021 reserva muitas incertezas, mais que o usual por conta da pandemia.”
Inflação
Segundo o economista, no contexto da alta de preços e da desvalorização cambial, devemos fechar 2020 com a inflação perto de 4% e, em 2021, mais perto dos 3,75%, que é a meta do Banco Central.