Porto Alegre, sexta, 11 de outubro de 2024
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Painel do Fórum da Liberdade 2021 debate o papel das mídias sociais

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O primeiro painel da programação do Fórum da Liberdade 2021, trouxe, já no título, um questionamento: as mídias sociais vão implodir a democracia? Para responder a esta pergunta, Alexandre Ostrowiecki, João Pereira Coutinho e Murillo de Aragão apresentaram reflexões sobre diferentes aspectos do tema. O encontro, do primeiro dia do evento, ontem, foi mediado pelo diretor de formação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Vitor Nunes, e pelo vice-presidente da entidade, Gabriel Torres.

O cientista político e professor português João Pereira Coutinho, da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, elencou dois principais desafios no que se refere às redes sociais. Se, por um lado, há uma pressão inédita dos internautas aos representantes, que gera o risco de o governante tomar suas decisões com base exclusivamente na popularidade delas, por outro, o intelectual entende que as redes sociais contribuem para uma ilusão de autonomia individual, sem a busca pelo consenso e o respeito ao pluralismo. O escritor, que também é colunista da Folha de S.Paulo, também vê com preocupação a possibilidade de regulação das redes sociais por governos, sob o pretexto de combate às fake news.

– É como se a luta contra o discurso de ódio tivesse se transformado em um instrumento de ódio para calar a liberdade de expressão. O combate às fake news deve ser tratado com base nos princípios liberais – sugere Coutinho.

Já Alexandre Ostrowiecki, que é CEO da fabricante de eletroeletrônicos Multilaser e fundador do portal Ranking dos Políticos, tem uma visão mais otimista sobre as redes – o profissional reconhece como é preocupante a disseminação de fake news e a alienação causada pelos algoritmos, mas considera que a internet permite uma aproximação maior entre representante e representado, o que faz com que seja mais difícil esconder “sujeiras” e mais fácil boas ideias virem à tona, independentemente, por exemplo, do tempo de TV de um partido em horários eleitorais.

– Tendo a acreditar que as tecnologias nascem com desconfiança, mas podem contribuir com a democracia. Podemos criar novos modelos alavancados pela tecnologia, que façam com que as pessoas participem mais e os representantes reflitam de fato os interesses dos representados – avalia Ostrowiecki.

O diretor-presidente da Arko Advice – Análise Política e Pesquisas, Murillo de Aragão, por sua vez, acredita que as redes sociais ameaçam muito mais os regimes não-democráticos do que os democráticos, o que se evidencia, segundo o cientista político, pelo fato de as mídias serem censuradas em países com regimes autoritários, como Cuba, Turquia e China. Para o especialista, sempre que as comunicações avançam, se questiona o risco delas para o sistema político vigente.

– Estes questionamentos são normais e, sem dúvida, há necessidade de regulamentação das redes sociais, se discutir, de forma muito cautelosa, temas como anonimato e responsabilização na internet. Porém, o Brasil tem como maior risco à democracia não as redes sociais, e sim a falta da educação, do conhecimento sobre o que é nação, o que é democracia – defende Aragão.