Há meses o neurocientista Miguel Nicolelis alertava que o Brasil chegaria a meio milhão de mortos pela covid-19 caso não corrigisse seu protocolo de combate à pandemia. E assim foi. Alcançado o vergonhoso marco no último sábado, o pesquisador diz que é hora de olhar para além do número oficial da pandemia para entender de forma mais completa o desastre sanitário brasileiro. Ele explica: todos os anos, espera-se que morram no país um contingente de pessoas e, para 2021, a expectativa, em situação mais ou menos normal, era que 1,2 milhão de brasileiros perdessem a vida. A análise do pesquisador, que é colunista do EL PAÍS, onde comanda um podcast de análise sobre a crise da covid-19, aponta que o quadro neste ano já é mais que assustador: o Brasil deve acumular um milhão de mortes totais já em julho, de acordo com os atestados de óbitos no Registro Civil.
“Vamos completar 83% dos óbitos esperados anualmente, por todas as causas, em sete meses. Isso inclui óbitos pelo colapso hospitalar e dá uma visão mais completa da tragédia”, afirma. Ou seja, o enorme contingente de perdas humanas mostra não apenas quem morreu comprovadamente pela covid-19, mas também joga luz naqueles que não puderam fazer o teste para a doença a tempo ou quem tentou e não conseguiu ter atendimento para outras enfermidades nos sistemas de saúde. Não é algo trivial. Há um ano e meio, os sistemas de saúde públicos, mas também os privados, trabalham sob alta pressão e especialistas chamam atenção para um colapso de atendimento e diagnóstico nem sempre evidente.
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