Em audiência organizada pelo deputado Fábio Ostermann (NOVO) nesta quarta-feira (18/08), diversos representantes do setor de eventos e dos cinemas apontaram os prejuízos da meia-entrada. Durante o encontro, realizado na Comissão Mista Permanente de Defesa do Consumidor, os empresários apresentaram as principais dificuldades enfrentadas e as distorções que foram geradas ao longo dos anos.
Na abertura dos trabalhos, Ostermann explicou o projeto de sua autoria, que tramita na Assembleia Legislativa, para universalizar a meia-entrada no Rio Grande do Sul. Se aprovada, a proposta garantirá a todos que residem no Estado o direito de pagar a metade do valor do ingresso em eventos culturais – o que, na prática, representará o fim do benefício, mantendo-se a possibilidade de a concessão de descontos específicos conforme as possibilidades e estratégia comercial dos produtores.
Para o deputado, esta política não é focalizada e privilegia grupos muito diversificados. “Nesse sentido, observamos um impacto muito negativo Brasil afora. No final das contas, alguém paga essa conta, pois não temos ‘almoço grátis’. Ou é o produtor cultural que reduz a sua margem de lucro, ou é o consumidor que não pode usufruir desse recurso, que na maioria das vezes possui uma renda menor”, analisou.
MANIFESTAÇÕES
O presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras (Feneec), Ricardo Difini Leite, foi o primeiro palestrante do evento e relatou que o Brasil é o único país do mundo que adotou o recurso da meia-entrada. Conforme o representante da entidade, o benefício acaba gerando distorções, uma vez que o público contemplado é jovem, bem instruído e com alta renda familiar.
“Atualmente, não temos a liberdade para tornar o preço do ingresso mais justo e que poderia oportunizar o acesso de eventos para um número maior de clientes. O resultado é que afastamos as pessoas de menor poder aquisitivo da cultura”, manifestou. De acordo com o representante, se as empresas tivessem a liberdade de precificar, sem a política da meia-entrada, o valor do ingresso de cinema estaria na faixa entre R$ 15 a R$ 20.
O diretor-regional da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (ABRAPE), Carlos Branco, defende que as empresas não podem arcar sozinhas com essa conta. “Não foram criados mecanismos de isenções ou reduções fiscais para compensar as perdas. A concessão desse direito, que é assegurada para 40% do total dos ingressos disponíveis em cada evento, inviabiliza a realização de diversos shows no Rio Grande do Sul”, pontuou.
Na mesma linha de Carlos Branco, o sócio-diretor da Opinião Produtora, Rodrigo Machado, relatou a dificuldade de explicar os mecanismos da meia-entrada na negociação de shows internacionais, já que o Brasil é o único país a adotar esse recurso.
Já o presidente da Opus Promoções, Carlos Konrath, mencionou que a discussão sobre o tema é oportuna, tendo em vista que o setor de eventos foi o primeiro a ser paralizado com a pandemia e será o último a retomar plenamente com as atividades. “Não há inclusão social alguma com este benefício”, resumiu.