Na direção contrária dos gestos de pacificação defendidos por uma ala do governo, um grupo restrito de conselheiros — formado por filhos, ministros, militares e assessores com posto no Palácio do Planalto — fomenta o confronto. Um exemplo disso ocorreu na semana passada durante o discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Era para ser formal, com aceno diplomático à política de proteção ao meio ambiente, um dos temas mais sensíveis para o Brasil, mas o resultado foi bem diferente. De última hora, o presidente fez alterações no texto. Em vez de falar para a comunidade internacional ali reunida, seguiu o conselho do seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e fez um aceno aos apoiadores, distorcendo fatos, mentindo sobre as manifestações de 7 de setembro e defendendo o uso de tratamentos comprovadamente ineficientes contra a Covid-19.
Por trás dos maremotos que sacudiram o governo em mil dias, completados hoje, está outro filho do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), que exerce influência direta na comunicação do presidente. O “Zero Dois” foi o principal articulador da criação do “gabinete do ódio”, como ficou conhecido o grupo de assessores do presidente responsável por radicalizar nas redes sociais e engajar os apoiadores. Um dos seus principais integrantes é Tércio Arnaud Thomaz, investigado por fazer parte de um suposto esquema de disseminação de notícias falsas. Conforme revelou O GLOBO ontem, mensagens de WhatsApp em poder da CPI da Covid indicam que há uma ação coordenada nas redes para atacar opositores do governo.
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