A cantora e compositora, Nina Nicolaiewsky, lança o EP Receita de Casa nesta sexta, dia 12 de novembro, nas plataformas digitais da artista (https://linktr.ee/ninanicolaiewsky). Ainda que fisicamente distante do Brasil, está em Valência na Espanha onde acaba de finalizar o Master em Performance Contemporânea na Berklee College of Music, Nina mostra ao público seguidor o EP Musical e o EP Visual, feito na serra gaúcha, e que traz a participação e interpretação da atriz Márcia do Canto. Receita de Casa apresenta três faixas construídas da seguinte forma: Intro, Nem tudo e Pode ser.
O processo do Receita de Casa
O processo de gravação das músicas do EP Receita de Casa teve várias reflexões da compositora sobre gravar música brasileira fora do Brasil. Como fazer isso acontecer e explicar o que é a música brasileira para não brasileiros? Nina analisa que, depois de um ano e meio de pandemia, entende muito mais sobre a música brasileira ao lidar com os contrastes de pensamentos e do fazer música quando há a necessidade de usar as palavras de outro jeito, que não na forma como estamos acostumados a usar. Nestes momentos se reconhece mais a nossa essência, sendo um processo, no mínimo, curioso.
Ao chegar na Espanha para estudar no Berklee College of Music, curso focado em performance e em produção musical, e estar no meio de estudantes da música de todos os cantos do mundo carregados de realidades musicais e sociais distintas e contrastantes, toda esta atmosfera se tornou material rico para a produção musical de Nina. No início, ao chegar em Valência, a ideia era a de gravar um álbum, entretanto, acabou se envolvendo com tantos outros projetos musicais que faziam tanto sentido naquele momento, que o álbum deu lugar a um EP. “Quando cheguei em Valência, meu objetivo era gravar um álbum de música brasileira fora do Brasil com não-brasileiros. O meu desejo era contar com os músicos que conheci no caminho, músicos não-brasileiros, que fizessem um som que soassem o que eles são, ou seja, acolhendo suas próprias origens”, relembra Nina Nicolaiewsky.
Mas, a vida foi seguindo seu rumo e a compositora conta que, aos poucos, passou a ventilar a ideia de criar um disco de música brasileira feito também por não-brasileiros. Deu-se o início a um processo de compreender como poderia articular um projeto musical, no qual pudesse contar com músicos recém conhecidos e experimentar instrumentos e sons com que tinha pouca ou nenhuma familiaridade.
Assumir a linguagem que nasce do contexto que se vive no agora foi um dos pontos de partida de Nina. A inserção do vibrafone no EP Receita de Casa, de alguma forma teve muita relação com este pensamento. O vibrafone é um instrumento presente no jazz. No entanto, Nina deixa claro nunca ter conhecido um vibrafonista, “não conhecia nomes de vibrafonistas e tinha zero relação com este instrumento. Lembro-me que curti a possibilidade de conhecer músicos que tocavam o vibrafone. Esse instrumento teve muita relação com esta escolha para esse disco de sonoridade brasileira. Diria mais: de uma música brasileira não feita por brasileiros, de assumir uma música que não foi criada na minha terra. Toda esta instrumentação teve uma relação muito próxima com isso e com a parceria dos músicos que embarcaram neste projeto comigo: o baixista e vibrafonista, Brandon Atwell, e o trombonista, Sam Rowley, ambos americanos, e o bateria, Pedrinho Augusto, brasileiro como eu!”
Intro
A Intro começa já com a ideia de que o EP se chamaria Receita de Casa. E a forma curiosa como as coisas acontecem chama sempre a atenção de Nina Nicolaiewsky, que diz ter gravado uma outra música que nem tinha nome ainda. Quando parou para ouvir, percebeu que a música não fazia sentido nenhum. “Eu fiz uma composição rápida e porque tinha um horário agendado no estúdio, resolvi gravar. O resultado foi uma música que precisava arrumar vários detalhes. Pensei em cancelar, tirar do EP, embora eu gostasse de algumas partes. Reuni um pequeno trecho, o início do que era uma música e coloquei uma gravação com a Carina Levitan, feita no Armazém Sonoro, onde a gente criou uma paisagem sonora que, por exemplo era assim: a pessoa entra, abre a porta, anda aqui, pega a xícara e a colher, lava e faz um café etc. Fomos fazendo esta cena e a equipe do Armazém gravando na época!” Nina ainda acrescentou algumas falas sobre a relação da música com a receita. Só depois de tudo isso, conseguiu editar e ter INTRO. “Eu sempre gostei de discos com esta ideia de intro e com transições, gosto desta ideia do todo. ”
NEM TUDO
A composição da música teve início na capital gaúcha, durante a residência artística de Nina, no projeto Concha financiado pela Natura, que reuniu 15 compositoras de Porto Alegre, em 2019. Ao longo da residência, Nina conheceu a artista Rita Zart e de cara as duas se conectaram pela música. Foi em meio aos laços da amizade inicial, que Nina resolveu apresentar para Rita a melodia e um primeiro verso de “Nem tudo”.
A letra surgiu de um exercício de escrita de microcontos com outras pessoas que foram convidadas a escrever, além da própria Nina e da Rita. Ao final de uma coleção de microcontos, Nina Nicolaiewsky pegou todos eles e os transformou em letra. Surge, desta forma, “Nem tudo”. Nina relembra que depois deste primeiro processo, mandou para Rita Zart o que tinha. E ela devolveu com o segundo verso. Quando leu o todo, a artista ainda sentia que a letra poderia ter algo mais. “Na minha cabeça e no meu coração, a música ainda não estava clara de como iria funcionar tanto na estrutura quanto na forma depois de tantas intervenções. Toda esta trajetória parece rápida, no entanto, foi um processo”, comenta a cantora. Só após chegar na Espanha em meados de agosto de 2020, e se estabelecer para assistir às aulas no Master em Performance Contemporânea na Berklee College of Music, em Valência, que Nina resolveu retomar a música e encarar a finalização com a ideia de refazer o refrão. “Tirei uma parte que existia e fiz este refrão. Penso que foi uma boa costura, no final”, expressa a artista.
“Agora entendo que a letra vem muito deste lugar que é meu e da Rita. De uma forma de escrever muito próxima e de um olhar que é nosso.
Acredito que a Rita Zart e eu nos encontramos em vários aspectos tanto musicalmente quanto de existência.
Temos muitas coisas em comum, muitas atitudes e posturas similares, além de uma introspecção que é característica de cada uma.
A Rita perdeu a mãe nova. Eu perdi meu pai. Nós, enquanto compositoras, acabamos nos sintonizando
com algumas dores e descobrimos pontos que são comuns para ambas.
Entendi, depois de ver a música pronta que nós curtimos escrever juntas porque nos conectamos em essência.
A gente escreveu a música juntas.
Isso foi, nem tudo”, reflete Nina Nicolaiewsky.
PODE SER
É uma música que surgiu depois de Nina assistir a uma aula da professora Débora Gurgel, compositora e arranjadora. A ideia foi a de tentar compor uma música do jeito que Débora proponha. Nasceu assim uma melodia que Nina experimentou dialogar inicialmente com maracatu de baque virado. Pode ser é muito mais visual. É uma descrição a partir de uma cena e das sensações, estando muito relacionada com as cenas vividas por Nina no último ano em Valência.
A letra acabou surgindo dos jogos de palavras impossível, importuno e improvável. Ao mostrar para o baterista, Pedrinho Augusto, e para o baixista e vibrafonista, Brandon Atwell, automaticamente, Pedrinho fez uma releitura do maracatu enquanto que o arranjo rolou mais coletivamente. “Enquanto a gente ensaiava, eu estava bem disposta a mudar o arranjo que surgiu naquele nosso momento. Eu tinha uma ideia diferente e acreditava que a música era mais lenta e menos groove. No fim, ela acabou virando bastante pelo que os guris trouxeram. Isso me mostra muito a força do arranjo coletivo e de estar disposta a ouvir e mudar em todo o processo da gravação.” Isso só deixou mais claro para Nina o quão valioso é o processo de trocas na construção de composições. “E foi assim que eu acho que surgiu, pode ser?”, brinca Nina.
EP VISUAL RECEITA DE CASA
Ao escrever as músicas e criar o conceito de Receita de Casa, Nina Nicolaiewsky foi aos poucos entendendo que havia uma relação da música feita longe de casa, que fala muito sobre casa e a relação com essa. Ao pensar sobre visualidades e em como fazer algo que se relacionasse com as músicas, surge a ideia de realizar um EP Visual que tivesse a participação da atriz Márcia do Canto. “Tive a vontade de fazer um EP Visual com a minha mãe, Márcia do Canto, que é atriz e se conecta muito com as músicas produzidas. Além disso, a vontade foi filmar exatamente onde ela está morando, atualmente, e onde nós duas moramos juntas enquanto estava no Brasil durante a pandemia. Na maior parte do nosso tempo, ficamos na casa da serra gaúcha, em Canela/RS”, comenta Nina.
A casa de Canela é um espaço cheio de símbolos e memórias importantes tanto na história de Nina quanto na história de ambas, mãe e filha. O EP Visual faz uma narrativa única ao percorrer as três músicas: Intro, Nem tudo e Pode ser, e é dirigido e roteirizado por Bruno do Anjos, da OCorre Lab.
A atriz, Márcia do Canto e mãe de Nina, fala que quando recebeu a notícia de que a filha queria gravar um EP na casa de Canela, disse que achava legal e bacana a ideia do material ser filmado. “A Nina e eu, principalmente depois da fase adulta da vida dela, e no âmbito profissional, a gente sempre conversou bastante tanto das minhas questões profissionais que eu mostro, pergunto e converso quanto das questões relativas aos trabalhos e da vida dela. Admiro muito esta geração! Eles têm trabalhos maravilhosos e sempre a Nina me apresenta projetos bacanas que acontecem não só no nível da música, mas no teatro e nas artes em geral. Acho bárbara esta troca que a gente possui. Sempre no âmbito casa, no âmbito pessoal, familiar e íntimo”, comenta Márcia.
Mas, foi só quando o dia de gravação foi chegando perto e as reuniões com o diretor e produção (todos amigos de Nina) ganhando forma, que Márcia percebeu a dimensão do trabalho. “Quando a Nina me mostrou a foto, a arte do trabalho dela, eu disse: caramba! Fiquei bastante impressionada com o profissionalismo deles. Aliás, eu sempre fico muito impressionada com o profissionalismo da Nina, vejo ela muito dedicada e cuidadosa nos trabalhos que desenvolve.” O set de filmagem do EP Visual Receita de Casa teve a participação do diretor Bruno dos Anjos, da produtora Fernanda Verdi, e da assistente de produção, Renata Rodeghiero. “Quando eles chegaram aqui com todos os equipamentos para a filmagem, iluminação e colocaram dentro da minha casa, foi como se eu fosse vendo a Nina crescendo na minha frente, sabe? Cada vez se transformando numa pessoa maior, mais profissional, mais dedicada. Eu me surpreendo toda hora com ela neste aspecto”, recorda Márcia.
O processo de gravação do EP Visual contou bastante com a participação da Nina. Nas conversas por chamadas de vídeos, a cantora e compositora escolheu o figurino e deu dicas do que queria que aparecesse na casa ou não. Apesar da Nina estar distante fisicamente, ela estava ali com todos. “Foi muito emocionante trazer as filmagens para dentro de casa e pensar pelo aspecto da intimidade do lar, de mesmo quando a gente está longe, o quanto estamos perto e o quanto a gente acaba por valorizar os momentos do cotidiano, os objetos materiais do nosso lar e quantas histórias a gente possui com eles e quantas histórias também contamos através deles”, comenta Márcia.
A linguagem visual brinca muito e conversa com a receita das pessoas. Essa ideia dos que seguem receita à risca uma receita ou daqueles que improvisam a receita, faz Nina pensar sobre como encara este processo: “Eu acho que eu sou um pouco das duas, na verdade. Este jogo na verdade é muito mais do que uma relação com a cozinha, é uma metáfora de como as pessoas vivem a vida: à risca, seguindo à risca num manual que nos é dado, as instruções que são dadas ou se improvisamos, ou se existe um meio termo. Às vezes a gente é um pouco dos dois.”
A atriz Márcia do Canto diz que ao ver a Nina Nicolaiewsky se colocar desta forma neste EP com essas músicas e convidando a mãe para atuar, foi um gesto de uma grandeza, de um carinho, de uma generosidade imensa por parte da Nina e que acha admirável e amou fazer. “Eu adoro, e a Nina sabe disso, de interpretar sem texto sem ter que dar fala e como eu também faço mímicas, eu gosto da ideia do não texto e do texto corporal. Gosto do texto que não é verbal e ali, naquele momento, o tempo inteiro era eu na história. Fiquei muito emocionada, muito feliz, e me sentindo muito próxima da Nina apesar dos quilômetros de distância que ela está de mim neste momento. ”
O EP visual também tem espaço para algo mais contemplativo, que também faz parte da cantora e compositora, pois na sua compreensão a música é a forma como canta e insinua um tanto deste lugar contemplativo, íntimo, minimalista e também vulnerável. “Há um aspecto importante e que é bom, no qual a distância une. Há identidades e intimidades que não se perdem e que precisam ser resgatadas inclusive para que a gente se sinta bem, quando se está num lugar onde estamos fora do ninho. Este resgate está relacionado com as pessoas que se ama e admira. Pelo menos esta é a nossa experiência, a experiência minha e da Nina”, finaliza Márcia. Enfim, tudo isso é feito neste lugar que é cheio de símbolos.
Lançamento do EP RECEITA DE CASA
Quando: sexta, dia 12 de novembro, em todas as plataformas digitais
Acesse o link para download fotos, frames e músicas: https://we.tl/t-2TqcLbzYmP
Plataformas Digitais Ninca Nicolaiewsky
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FICHA TÉCNICA || Receita de Casa
Produção executiva: Fernanda Verdi
Produção musical: Melanie Frade
Engenharia de Som: Paige Shephard
Mixagem: Pedro Coda
Masterização: Olimpio Machado
Voz: Nina Nicolaiewsky
Baixo e vibrafone: Brandon Atwell
Bateria: Pedrinho Augusto
Trombone: Sam Rowley
Paisagem sonora: Carina Levitan
Gravação da paisagem sonora: Estúdio Armazém Sonoro, Porto Alegre/RS.
Arte: Mariana Sartori
Fotos: James Manjo
Gravado no estúdio da Berklee College of Music em Valência, Espanha.
Intro
Composição: Nina Nicolaiewsky
Voz: Nina Nicolaiewsky
Bateria: Pedrinho Augusto
Trombone: Sam Rowley
Baixo e vibrafone: Brandon Atwell
Paisagem sonora: Carina Levitan
Gravação da paisagem sonora: Estúdio Armazém Sonoro, Porto Alegre/RS.
Nem Tudo
Composição: Nina Nicolaiewsky e Rita Zart
Voz: Nina Nicolaiewsky
Bateria: Pedrinho Augusto
Trombone: Sam Rowley
Baixo e vibrafone: Brandon Atwell
Pode Ser
Composição: Nina Nicolaiewsky
Voz: Nina Nicolaiewsky
Bateria: Pedrinho Augusto
Baixo e vibrafone: Brandon Atwell
EP Visual || Receita de Casa
Produção Audiovisual: OCorre Lab
Direção geral, roteiro, montagem e finalização: Bruno dos Anjos
Direção de Fotografia e de Arte: Bruno dos Anjos
Produção executiva: Fernanda Verdi
Assistente de produção: Renata Rodeghiero
Intérprete: Márcia do Canto
Esse filme foi gravado em Canela, Rio Grande do Sul.