A eterna pergunta de “se o homem que fez a máquina pode por ela ser dominado?” volta à baila sempre. Mais ainda depois da escolha de Mark Zuckerberg, que enfrenta vários processos de apropriação de dados pessoais para enriquecimento individual, de mudar para Meta (de metaverso) o nome da empresa que agrega todas as suas outras empresas-satélites, e que antes tinha o mesmo nome de sua criação Facebook – aquela mesma que ajudou a mudar o mundo desde que criada há 17 anos.
O Facebook, aplicativo de mídia social, foi lançado em 4 de fevereiro de 2004, é operado e de propriedade privada da Meta, Inc.. Fundado em 2004 por Mark Zuckerberg e por seus colegas de quarto da faculdade Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, a criação do site Facebook foi inicialmente limitada aos estudantes da Universidade Harvard. O nome é dado ao livro dos alunos no início do ano letivo por algumas universidades nos Estados Unidos para ajudar os alunos a conhecerem uns aos outros. Gradualmente o site (mídia social) adicionou suporte para alunos em várias outras universidades, antes de abrir para estudantes do ensino médio e, mais tarde, para qualquer pessoa com treze anos ou mais. Em 2012, o Facebook atingiu a marca de 1 bilhão, em 2016 de 2 bilhões, e em 2021 registrou a marca de 3 bilhões de usuários ativos.
Tudo isso em apenas 17 anos! Aliás, para desenhar uma linha do tempo para marcar o período de gigantescas transformações da nossa sociedade tradicional, industrial, em uma sociedade de informação, não precisamos ir muito longe. Voltemos o relógio para 32 anos atrás, retrocedendo até 1989 quando, nos Estados Unidos, era criada a world wide web (www), que revolucionou o mundo levando-o a ser hoje o mundo das redes, lastreadas pela comunicação e informação livres. Isso um ano após a queda do Muro de Berlim (1988), que marca o fim da Guerra Fria e o início de uma nova era para a globalização. Enquanto nós aqui no Brasil vivíamos sob hiperinflação a primeira eleição livre para Presidente da República após o período militar deflagrado em 1964 e findo naquele ano, a Europa se preparava a criação da UE – União Europeia.
Logo depois, em 1993, foi lançado o Mosaic, primeiro navegador (browser) que permitiu a busca interativa dos usuários da rede www. entre sites. Daí por diante, a revolução se fez disponível para qualquer pessoa que tivesse as ferramentas do mundo digital para dela fazer o uso que bem entendesse – com todos os problemas daí decorrentes, hoje bastante conhecidos. A começar pelas fake news. . A liberdade de uso das ferramentas digitais acessíveis -ao limite de hoje por um celular, é um fato que levou à esperança de um mundo menos desigual, mais aberto e democrático. Que o digam os últimos anos do século XX, com o florescimento da União Europeia. Mas… sempre tem um “mas”. O mundo não para, nem a história acaba.
Então para que mundo caminhamos? A pergunta é feita e de certo modo respondida por Shoshana Zuboff, professora aposentada da Universidade de Harvard, a mesma onde foi criado o Facebook. Hoje com 70 anos de idade, tem a vitalidade e a agenda plena porque o seu tema de pesquisa de toda a vida é o tema mais importante de nossa sociedade dividida, e disponibilizado no livro publicado em português em 2019 (Zuboff, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância (Intrínseca), o livro foi debatido por webinar promovido pela Fundação FHC no último dia 09 de dezembro, sobre o perigo da cultura da informação no enfraquecimento dos valores democráticos, disponível no site da FFHC.
No Capítulo 1 de sua Introdução, Shoshana lança “Lar ou exílio no Futuro Digital”. Sem dar spoiler, daí por diante, é ler e reler. Uma delícia de livro.
*Yeda Crusius é presidente do PSDB-Mulher Nacional, governou o Rio Grande do Sul, foi ministra do Planejamento e deputada federal por quatro mandatos.
**Artigo publicado originalmente no blog: https://yedacrusius.com.br/