Porto Alegre, terça, 07 de maio de 2024
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Artigo: Agronegócio - É hora de adaptar para colher; por Rodrigo Provazzi*

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A pandemia de COVID-19 trouxe impactos econômicos e sociais extremamente profundos, obrigando empresas do mundo todo a revisar seus planos para os próximos anos. Em 2017, a PwC já havia identificado um conjunto de desafios urgentes, interdependentes e acelerados, que o mundo enfrentaria até 2025. Nós o apelidamos de ADAPT, que, na sigla em inglês, pode ser entendido como assimetria, ruptura, idade, polarização e confiança. Estava claro, antes da COVID-19, que as pressões decorrentes destas cinco forças iriam acelerar as transformações no mundo, incluindo o agronegócio. Mais do que antes, as organizações teriam agora que se reconfigurar para manter sua viabilidade. Aceleradas pela pandemia, essas mudanças podem realmente acontecer mais cedo do que pensávamos.

Os impactos da Covid-19 no agronegócio brasileiro são o foco de um relatório sobre o tema elaborado recentemente pela PwC Brasil, que inclui a implantação de planos de contingência para mão de obra, a mudança na forma de trabalhar com terceiros e o relacionamento com clientes, fornecedores e partes interessadas durante a crise. Além disso, as empresas precisarão adequar seus modelos de operação, uma vez que os problemas mais graves do mundo desencadearam quatro crises amplas que, se não forem consideradas atentamente, poderão causar danos irreparáveis nos próximos dez anos. Entre elas estão as crises de prosperidade, de tecnologia, de legitimidade institucional e de liderança. Perigosamente entrelaçadas, essas crises nos forçam a repensar e reconfigurar o futuro de maneira urgente.

Um bom caso de assimetria são as fusões e aquisições que vêm acontecendo entre empresas globais do agro. O mercado de sementes e defensivos agrícolas, por exemplo, mudou o controle econômico dos EUA para Europa, China e Índia. Com isso, somente duas empresas, juntas, monitoram 100 milhões de hectares no mundo todo, com suas soluções digitais. No caso do Brasil, a preocupação é com a proliferação e impacto de tecnologias inovadoras, que deve ocorrer mais rápido do que o previsto. Enquanto vemos uma média de 30 a 40% dos empregos do Reino Unido, EUA e Alemanha correndo risco de automação até 2030, em solo brasileiro estima-se que este número de desempregados pode chegar a 58%. Outro ponto de atenção está relacionado à pressão exercida sobre os recursos. Espera-se que a população global exija 35% mais alimentos até 2030, enquanto as temperaturas médias tendem a aumentar mais de 1,5oC trazendo impactos ambientais significativos e até mesmo irreversíveis.

Em 2025, o Brasil terá a sexta população mais idosa do mundo, com 15% acima da faixa dos 60 anos. Este envelhecimento populacional impactará diretamente sistemas de saúde público e previdenciário, além do que, os trabalhadores precisarão aprender novas habilidades para permanecerem relevantes, dentro do que chamamos de digital upskilling. A disponibilidade de pessoas com habilidades chave é visto como uma ameaça para o crescimento das empresas para 45% dos CEOs do Agro, segundo a 23ª edição da pesquisa PwC CEO Survey.

Um outro grande desafio do setor é lidar com o aumento de barreiras não-tarifárias contra produtos agropecuários brasileiros. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no ano passado identificou 27 barreiras no setor agrícola brasileiro, praticadas por 41 países. Mais da metade das restrições foram impostas por países do G-20. A Covid-19 tem obrigado as empresas a se tornarem cada vez mais transparentes em suas cadeias de valor e oferecer inovações ao mercado. Há uma demanda cada vez mais crescente por produção sustentável, rastreabilidade e produtos biológicos. Isso tem levado as empresas a aprimorarem seus processos de governança corporativa, na sigla ESG. Ter acesso às informações de ESG pode ser tão importante quanto às informações financeiras das empresas.

Diferentes stakeholders do agronegócio identificam a governança e a gestão como o segundo principal gargalo do agronegócio no País, atrás somente de infraestrutura. Embora o ADAPT possa apontar uma série de riscos para o setor, vemos enormes oportunidades nesses desafios. Não menos importante, a oportunidade de reformular a maneira como o agronegócio poderá atuar para gerar um resultado positivo não apenas para as empresas, mas também para a cadeia produtiva e para a sociedade da qual estas fazem parte.

*Sócio da PwC Brasil