“Fernando, sobre o negócio do hospital. Pode dar liga a você e até render um bom dinheiro.” Termina assim o primeiro das dezenas de diálogos entre o pai de santo Diogo Luis Cardoso e o administrador de hospital Fernando Rodrigues de Carvalho. Era 2018. A bonança prevista pela divindade acabou em três anos, com a prisão de Carvalho.
O homem que decidiu consultar o sacerdote se meteu em um dos maiores esquemas de corrupção da área da saúde descobertos no País: a máfia das Organizações Sociais. A relação dele e seu guia foi parar nos autos da Operação Raio X, pois, enquanto se consultava por meio de um aplicativo de mensagens, Carvalho confessava valores, revelava intrigas na organização criminosa, citava políticos e usava parte do dinheiro desviado para agradar à entidade. “Se fechar, vou mandar 2 mil; mil para o senhor e mil para o senhor fazer um agrado a Exu”, escreveu.
Cardoso, o Pai Diogo – como é conhecido –, vive em Curitiba. O guia dizia ser mensageiro de Exu Caveira, entidade que o ajudaria a conhecer os homens e seus destinos. Ele atendia pelo WhatsApp e tinha Carvalho entre os fiéis que lhe pediam conselhos e encomendavam trabalhos contra desafetos.
Aos poucos, tornou-se seu confidente após o administrador ser recrutado pelo médico Cleudson Montali, líder do esquema de corrupção que agia em quatro Estados, agora condenado a 200 anos de prisão. O grupo agiu em 27 cidades, desviando R$ 500 milhões. Quando abriram o arquivo do celular de Carvalho, os policiais comemoraram: “Conseguimos extrair um histórico cronológico de acontecimentos que giraram em torno de Fernando e da Orcrim”.
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