Porto Alegre, terça, 26 de novembro de 2024
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Voltaire Schilling, o iluminista de Porto Alegre; Márcio Pinheiro, especial para o Jornal do Comércio

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Um dos mais ativos intelectuais de sua geração, professor deixou marca profunda na cultura do Estado GILMAR LUÍS/ARQUIVO/JC

 

 

A figura era inconfundível. Alto, gordo, imenso. Um andar arrastado, quase sempre com as mãos grandes ajeitando os óculos de armação vermelha. Alguns livros debaixo do braço e também algumas anotações rabiscadas que deveriam servir apenas como guia – já que a aula completa estava pronta na sua cabeça. Voltaire Schilling chegava às palestras ou às aulas quase sempre acompanhado por um pequeno séquito. Eram fiéis seguidores que se deslumbravam com seu conhecimento e – mais ainda – com a capacidade clara e objetiva de transmiti-los. “Sua maneira de transferir seu enciclopédico conhecimento era muito vívida, sedutora e com acentos irônicos. Sua voz tonitruante dominava um recinto, e a mescla de seriedade e humor com que tratava os fatos históricos mantinha os alunos permanentemente interessados em sua exposição”, destaca o professor de Literatura Sergius Gonzaga, colega e amigo de Voltaire por mais de cinco décadas.
Fui testemunha do sucesso de suas palestras. Durante o tempo que estive à frente da Coordenação do Livro da Secretaria Municipal da Cultura, Voltaire foi dos mais constantes e ativos palestrantes dos seminários e debates organizados no Centro Municipal de Cultura. Suas aulas eram garantias de lotação esgotada e público interessado, a tal ponto que, de brincadeira, criamos o troféu Voltaire de Ouro, que deveria ser dado ao palestrante que tivesse a maior audiência. Nunca ninguém superou o homenageado.

Morto no último dia 2 de janeiro, vítima de uma embolia pulmonar – a última etapa de uma longa agonia hospitalar que se arrastava há muito tempo e que vinha acompanhada de problemas renais, cardíacos e de diabetes – Voltaire foi um dos mais ativos professores e intelectuais de Porto Alegre. Era uma referência entre seus contemporâneos.

Em seus 77 anos de vida, ele se mostrou múltiplo em múltiplas atividades. Deixou uma extensa coletânea de livros publicados ao longo da carreira, com títulos de destaque como O Nazismo: Breve História Ilustrada (1988), Estados Unidos versus América Latina: as Etapas da Dominação (1991), Tempos da História (1995), O Conflito das Ideias (1999), Ocidente x Islã (2003), Holocausto – Das Origens do Povo Judeu ao Genocídio Nazista (2016), Ascensão e Queda de Adolf Hitler (2018) e Modernismo e Antimodernismo (2019). Foi ainda palestrante e colaborou com jornais, revistas e portais de todo Brasil. No site Terra, durante um longo período, chegou a comandar uma seção focada em assuntos históricos e, em Zero Hora, foi articulista da página de Opinião e colaborador do caderno Cultura. Na televisão, atuou como comentarista de assuntos internacionais, culturais e políticos na TV Guaíba, participando com frequência dos programas comandados pelo comunicador Clóvis Duarte.

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