O segundo painel na terça-feira no Fórum da Liberdade teve como tema “Separando Fato de Opinião”. Uma das presenças no debate foi Johan Norberg, conferencista e documentarista sueco especializado em liberdade, empreendedorismo e globalização. Também estavam os brasileiros Francisco Bosco, filósofo, escritor e um dos pensadores mais influentes no Brasil, e a jornalista Madeleine Lacsko, especializada em Cidadania Digital e que produz mapeamentos, consultorias, mentorias e treinamentos sobre dinâmica de redes.
Os painelistas se centraram na questão da polarização, o que foi destacado como um comportamento natural do ser humano, e como lidar com esta realidade. “Há uma necessidade estrutural do humano de construir uma identidade própria, e essa construção talvez só seja possível em oposição a um outro grupo”, avalia Francisco Bosco. “O indivíduo moderno está lançado em uma experiência do indivíduo enquanto tal. O indivíduo é uma redescoberta moderna. O que se conquista em termos de liberdade individual, paga-se em termos de angústia psíquica. O sujeito moderno tem que arcar com todas as decisões possíveis da sua experiência. Quando o indivíduo emerge, essa experiência é vivenciada como uma emancipação. Mas, para outras, é como um desamparo, um desgarramento, que faz com que o indivíduo busque uma ancoragem. Qual é o problema dessa dinâmica? Identificações grupais promovem implicações narcísicas enormes. As opiniões tendem a ser de confirmação. Basta você reproduzir aquelas verdades para você ser reconhecido e estimado no interior do grupo. É difícil abrir mão do gozo narcisísticos que o reconhecimento do grupo te dá”, acrescenta.
Johan Norberg relacionou a guerra entre Rússia e Ucrânia com a falta de capacidade de receber e absorver opiniões contrárias. “Por que Vladimir Putin está fazendo essa guerra atroz? Ele faz em parte porque ele tem uma certa visão nostálgica de um tipo de império russo-soviético. Para ditadores e demagogos, as razões pelas quais eles cometem esses atos terríveis é porque eles se cercam apenas de pessoas que abordam o mundo da maneira como o déspota gosta. O que acontece quando não se aceita discordância é que você recebe a sua própria propaganda. Isso é perigoso não apenas para os outros, mas para quem impõe essas ideias sobre os outros”, avalia Norberg. “Todos sofremos do viés da confirmação. Somos tribais, isso é parte da natureza humana. Falhamos em ver fraquezas nas nossas próprias opiniões, mas temos um aliado: os que discordam de nós. Eles não gostam de nossas posições e nos fazem ver o mundo de outra forma. Pessoas, incluindo ditadores, se você silencia as pessoas, você perde a perspectiva de mundo que você jamais pode substituir”, completou o sueco.
Madeleine Lacsko salienta que é imperativo entender a própria natureza humana para que seja possível estabelecer relações respeitosas de discordância. “O ser humano não é racional. Ele é emocional que também raciocina. Ninguém quer ficar de mal com os outros, quer entrar em conformidade com o grupo. Isso é da natureza humana. Você só consegue dizer coisas duras para o outro se você sabe que a sua natureza é essa. Você não precisa acabar com a pessoa para dar uma opinião divergente”, analisa.