Este livro que será lançado em Porto Alegre no dia 7 é um dos mais completos relatos já feitos por um importante empresário sobre alguns temas cruciais do Brasil: jornalismo, política e negócios. O protagonista é Fernando Ernesto Corrêa, 85 anos, acionista do Grupo RBS, profissional com mais de seis décadas de atividade profissional e personagem com imensa capacidade para observar, atuar e explicar uma função na qualele foi um dos pioneiros e pela qual gosta de ser reconhecido, tanto que escolheu como título do livro: O Lobista.
Fernando Ernesto se destacou nessa atividade. Agora, ele detalha em O Lobista: Negócios, Política e Jornalismo muito do que viu, ouviu e interferiu durante os quase dois anos em que morou em Brasília. Lá, durante a Constituinte, no final dos anos 80, o dom da onipresença de Fernando Ernesto era quase inesgotável. Ele circulava por gabinetes, bares, hotéis, redações, emissoras de TV, restaurantes e todo e qualquer lugar onde fosse possível conversar e tentar cooptar algum indeciso para a sua causa. Suas
bandeiras eram duas: a liberdade de expressão e a defesa da atuação privada dos meios de comunicação, e a elas foi fiel e incansável durante os 20 meses de trabalho. Com parceiros de outras empresas e de outras entidades de classe, ele se articulou e teve papel decisivo em muitos capítulos do texto final da Carta. Trabalho este reconhecido até por quem faz o prefácio do livro, o ex-constituinte e ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso.
A Constituinte serviu para Fernando Ernesto como uma espécie de mestrado. Lobista ele era desde sempre, talvez desde a mocidade, quando demonstrava talento e competência para participar de negociações e buscar resultados. Se Brasília foi seu mestrado, Fernando Ernesto graduou-se no Rio Grande do Sul, desenvolvendo seu talento na advocacia, nas relações com entidades de classe e, em especial, nas atividades como executivo. Foi na RBS, onde entrou em meados dos anos 60, que Fernando
Ernesto aproximou-se de um de seus mestres, Maurício Sirotsky Sobrinho. A parceria deu certo e, pelos 20 anos seguintes, eles estiveram à frente de um dos mais pujantes grupos de comunicação do Brasil. De Maurício, Fernando Ernesto recorda que os 11 anos de diferença entre os dois não impediram que a amizade e a empatia fossem imediatas. Eles eram semelhantes na expansividade e no talento para formar grupos e na vontade de expandir negócios e ideias. Era uma parceria que se estendia pelas 24 horas do dia.
O “Bacharel” – como Maurício chamava Fernando Ernesto – seria imprescindível na consolidação da empresa. “Nosso relacionamento transcendia as paredes do prédio da RBS”, confessa Fernando Ernesto. Assim, conhecer a amizade dos dois é conhecer também um capítulo interessante da vida brasileira e de como eles ajudaram a dar forma ao mundo da comunicação construído no Brasil. Curiosamente, Fernando Ernesto viveria o apogeu de sua carreira um ano depois da morte de Maurício, num projeto que os dois haviam começado a idealizar em 1985. Sentindo o clima que o país atravessava, com a volta da democracia, eles vislumbraram que os dias que viriam seriam desafiadores em termos políticos e econômicos. E foram.
Agora, no balanço que faz daqueles dias, visto com o distanciamento de mais de três décadas, o lobista pioneiro não tem dúvida em apontar sua participação em Brasília como o trabalho mais gratificante em sua trajetória profissional. Um livro – a mais pessoal e isolada das criações humanas – ganha outra dimensão quando feito em parceria. Biógrafo e biografado criam uma cumplicidade. No meu trabalho com Fernando Ernesto isso foi favorecido ainda mais pelo desejo dele de recordar centenas de histórias que viu, testemunhou e/ou foi protagonista. Foi pelas mãos dele, então vice-presidente da RBS, que eu, em março de 1991, entrei como repórter de ZH. A partir de então, tornamo-nos amigos, uma amizade peculiar que as diferenças – de idade, de estilo de vida, de status profissional – podem permitir entre
duas pessoas. Esta proximidade foi fundamental para que ele me chamasse para conversar e me convidasse para lhe ouvir e fazer este livro. Em quase dois anos, no período mais agudo da pandemia, estivemos próximos. Porém, este isolamento e também o tempo para reflexão foram decisivos para que Fernando Ernesto remexesse em suas gavetas (as de verdade e as da memória) e encontrasse ânimo para recuperar as histórias que enriqueceram sua vida – e que agora merecem ser conhecidas.
*Márcio Pinheiro, jornalista e escritor
**O livro terá lançamento e sessão de autógrafos, no final da tarde desta terça-feira(07), na Pocket Store, Rua Félix da Cunha, 1.167, em Porto Alegre. Fone: (51) 3519-6970.