O progresso, a evolução, as transformações dependem das incertezas. A conclusão pode ser tirada do debate com os cientistas Natalia Pasternak e Stuart Firestein, atrações que abriram o evento Fronteiras do Pensamento 2022 — em Porto Alegre e São Paulo — e que participaram do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento nesta quinta-feira (11). A edição de agosto teve como convidados a bióloga e o neurocientista, reconhecidos por defenderem a ciência e combaterem a desinformação. Com o tema Tecnologias para a Vida, a temporada 2022 do Fronteiras do Pensamento traz para o debate temáticas nas áreas da ciência, tecnologia, evolução, inovação, humanidade e sociedade digital. Em Porto Alegre, a programação ocorre na Casa da Ospa, de agosto a novembro, também com edições virtuais. Em mais de 15 anos de evento, já foram mais de 300 conferências internacionais realizadas. Conheça a programação acessando.
Uma das mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo em 2021, de acordo com a BBC 100 Women, vencedora do prêmio Jabuti, e o pesquisador da Universidade de Columbia, reconhecido por seus estudos sobre o olfato e autor de Ignorância: como ela impulsiona a ciência, participaram de uma conversa fechada com colaboradores e médicos do Hospital Moinhos de Vento. Eles provocaram uma reflexão sobre a importância de estimular questionamentos, seja no aprendizado, nos desafios da vida e, principalmente, quando se trata de ciência e no cuidado com a vida. O debate teve a participação do superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, e foi mediado pelo superintendente médico, Luiz Antonio Nasi.
O neurocientista defende três eixos fundamentais na busca pelo conhecimento: incerteza, fracasso e ignorância. Para Stuart, é preciso assimilar que o caminho bem sucedido para encontrar respostas passa por aceitar essas situações e seguir em frente. “O propósito do conhecimento é criar mais ignorância, de melhor qualidade. A partir do fracasso, fazer perguntas melhores”, destacou.
Ao ser questionado sobre a mudança de perspectiva para resolver um mesmo problema, ele citou os seus estudos sobre o olfato e a ligação desse sentido com o cérebro. “Pesquisei sobre o olfato durante 30 anos e ninguém se preocupava. Com a COVID-19, a perda do olfato foi um dos primeiros sintomas identificados como característica da infecção e despertou as pessoas para o tema. E continua sendo um mistério”, explicou.
Natalia falou sobre os desafios enfrentados pela comunidade médica e científica no combate à desinformação. A pesquisadora ressaltou o movimento antivacina e a explosão das fake news durante a pandemia. Segundo ela, são problemas que precisam ser resolvidos com comunicação transparente e tornando mais acessível e compreensível para a população o conhecimento produzido em universidades e centros de pesquisa.
“Muitas sociedades e associações médicas fizeram um esforço mas, ao mesmo tempo, elas não estavam preparadas para combater a desinformação”, lembrou. Natalia sugeriu mecanismos para estimular a aproximação com o público. “No Brasil, há uma dificuldade muito grande de valorizar o professor, o pesquisador, o docente, o médico, o cientista que dedica parte do seu tempo para fazer um trabalho de comunicação com a sociedade, pois isso é visto como perda de tempo”, ponderou.
A polarização político-ideológica e a intolerância também foram citados como entraves para promover a conscientização e ter uma sociedade mais bem informada. Para Stuart, mesmo na ciência existe um pluralismo de ideias. “Há mais de uma maneira de se ver as coisas e, muitas vezes, mais de uma estará certa. Mesmo algumas coisas que valorizamos e não abrimos mão, como liberdade e segurança, colidem em algum ponto. E na condição humana, devemos acolher essa heterogeneidade, porque o mundo não é homogêneo”. O neurocientista acrescentou que um dos caminhos é reconhecer que nem sempre é sobre política, pois os grandes desafios da humanidade estão além da política. “Eu preciso conversar com as pessoas de quem eu discordo politicamente para perceber que concordamos em muitas coisas”, concluiu.