Porto Alegre, quarta, 08 de maio de 2024
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'Alô, amigos!' Obrigado, Ranzolin !!!

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Armindo Antônio Ranzolin, um homem de rádio. Foto: Arquivo Pessoal

 

 

Morreu, aos 84 anos, a voz que ecoa na minha cabeça quando penso em meu pai ouvindo os jogos do Internacional, década de 1970. A partida de Armindo Antônio Ranzolin me faz recordar grandes momentos do Esporte e do Jornalismo, sempre com aquela narração limpa, objetiva e clara. Tive o prazer de ser comandado por ele nos anos 1990. Dele, recebi vários ensinamentos, corretivos e alguns elogios – poucos – inesquecíveis. Um deles, após uma entrevista no Gaúcha Fim de Semana, com Luis Fernando Verissimo, onde o gênio da escrita, conhecido por suas falas econômicas, se abriu e falou muito … a tal ponto que, finalizada a conversa, Lúcia Verissimo, que acompanhou a entrevista no estúdio, elogiou-me e disse que não lembrava da última vez em que o LFV tinha falado tanto. Na segunda-feira, Ranzolin me chamou e fez vários elogios à maneira como conduzi o bate-papo.

Ranzolin, em seu retorno ao Brasil, após a Copa de 1994 (ele já havia falado comigo por telefone), chamou-me em sua sala para comentar a cobertura jornalística da qual participei em pleno mundial de seleções, quando houve as 48 horas de pânico e medo em Porto Alegre, no famoso motim do Presídio Central. “Vocês fizeram Rádio! Vocês fizeram jornalismo. Vocês nos mantiveram acordados nos Estados Unidos, com informação de qualidade”.

Armindo Antônio era um “homem de rádio”, apaixonado pelo ofício e extremamente cuidadoso com o produto. Certa vez, ouvindo a leitura que fiz de uma notícia, ele me chamou e disse: “Felipe, tua leitura foi perfeita na dicção, mas monocórdica. Modula esse vozeirão, encanta o ouvinte. Mesmo que o texto seja duro, interpreta ele, porque senão o ouvinte dorme”. Alguns dias após o conselho, ele veio falar comigo novamente. “Ana Amélia e eu vamos num evento da RBS. Antônio Carlos Macedo vai viajar para uma cobertura esportiva, tu vais fazer o Atualidade, no teu ritmo e te prepara para as entrevistas. Confiamos em ti”.

Nas últimas vezes em que o encontrei na casa de Cristina e Falcão, ou no cinema – em uma final de Champions – ele com filho Ricardo, ou ainda com a Dona Yara no Moinhos, sempre ficava a dúvida: se minhas as lembranças correspondiam às dele, em função do Alzheimer que vinha enfrentando faz algum tempo. Em todos esses momentos, sentia um olhar carinhoso, de afeto. E é assim que vou guardar na memória e no coração as nossas conversas.

Sou um ouvinte de rádio, desde a mais longínqua memória. Ranzolin, hoje, junta-se a Glênio Reis, Jaime Copstein, Milton Jung, Antônio Augusto, Flávio Alcaraz Gomes, Flavio Martins e tantos outros mestres da radiofonia … vozes que ecoam na minha cabeça, homens com quem tive o prazer de trabalhar e aprender sobre esse veículo maravilhoso que é o Rádio.

Lá no lugar reservado aos imortais, Ranzolin adentra hoje com o seu bordão característico, levado ao ar durante anos a fio, sempre no horário do meio-dia: “Alô, amigos”.