Porto Alegre, domingo, 19 de maio de 2024
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Carlos Konrath: De promotor de festas estudantis ao comando de uma das maiores empresas de entretenimento do Brasil; por Felipe Vieira

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Carlos Konrath Foto: Mila Maluhy

 

 

 

 

Aos 57 anos, meu amigo e padrinho Carlos Konrath é um das maiores empresários do showbusiness brasileiro. Criada em 1976, por Geraldo Lopes,  a Opus Entretenimento gerencia grandes teatros e casas de espetáculos nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. A empresa é responsável pelas carreiras de talentos consagrados na música brasileira, nomes como Daniel, Maurício Manieri, Seu Jorge, Alexandre Pires e também por projetos artísticos como Cabaré, que reúne Leonardo e a dupla Bruno & Marrone  e Irmãos, de Alexandre Pires e Seu Jorge.

Quem não acompanha a trajetória profissional e o vê hoje comandando a Opus, pode até pensar que a história já se iniciou glamorosa em meio a celebridades da música e das artes cênicas. Nascido em Porto Alegre, Carlos foi aluno do ensino público estadual na escola Piratini, onde presidiu o Grêmio Estudantil e, por causa dos eventos que promovia, acabou encontrando Geraldo – que conhecedor de pessoas, viu qualidades e garra no adolescente e abriu espaços -,  juntos produziram festas e shows escolares, até que o jovem estudante curioso que desejava conhecer os “macetes” foi contratado pela Produtora. Os primeiros anos foram de trabalho braçal, colou cartazes, cuidou de portarias, vendeu ingressos, montou espetáculos de madrugada, viajou o país – muitas vezes em carro pequenos e desconfortáveis, rodando por estradas esburacadas, organizou turnês e aprendeu a cuidar dos artistas e seus diferentes humores e personalidades. Enfim, vivenciou todas as funções dentro da empresa. Em 1990, aos 25 anos, ingressou tardiamente no curso de Relações Públicas da PUCRS. Tardiamente? Mais ou menos, afinal ele só concluiu a Faculdade próximo dos 50 anos. Sorte dos colegas e professores, que tiveram a oportunidade de conviver e aprender com o já sócio e  Presidente da Opus Entretenimento.

Sérgio Waib entrevista Carlos Konrath

Já disse e escrevi várias vezes que sou absolutamente suspeito para falar sobre meus amigos, já que neles só vejo qualidades. Esta semana, fiquei muito feliz ao ver a entrevista concedida pelo ‘Carlinhos’ ao grande Sérgio Waib, no ‘Girobusiness’, da BandNews TV.  Foi isso que me motivou a escrever esse texto. A gente vai ao teatro, shows, espetáculos, festivais e não para pensar que no Brasil, antes da crise mundial da Covid-19, o setor movimentava anualmente 314 bilhões de reais, gerando  cerca de 51,5 bilhões em impostos federais. O faturamento desse mercado representa 4,52% do PIB nacional. É bom lembrar que durante a pandemia, os empresários do setor foram os primeiros a fechar as portas, e os últimos a retomar os trabalhos. Os números da indústria do entretenimento  são grandiosos, agrega 6,2 milhões de pessoas, entre empregadores, empregados e microempreendedores individuais (MEIs). Somados os empregos diretos e indiretos, são 23 milhões de pessoas envolvidas numa complexa cadeia produtiva que reúne 52 atividades econômicas, distribuídas entre hospedagem, operação turística, gastronomia, transporte e logística, estrutura de limpeza e segurança, “Temos profissionais extraordinários, tecnologia fantástica à disposição, tanto no palco, quanto no backstage e para a plateia, o consumo do público”. A logística apesar dos problemas para deslocamento das pessoas – muitas vezes são dezenas, centenas para um espetáculo -, entende, também avançou. “Já é uma indústria gigante no Brasil, e ainda tem enorme potencial de crescimento”. Foco, profissionalismo e qualidade, segundo Carlos, é o tripé que resume a fórmula do sucesso no setor de entretenimento. “É o ao vivo, é aquele dia e naquele horário. Vender uma experiência que o público vai levar para a casa, tem que ser a melhor experiência”.

Carlinhos, que colou cartazes e montou camarins e palcos para o espetáculo acontecer, acompanhou a evolução da tecnologia e inovação, e como elas agregaram valor ao setor. É gigante hoje, segundo ele, esse processo na indústria do entretenimento, tanto para poder programar a chegada do público ao local dos eventos, dando a ele alternativas de vias, direcionamento nas cidades, quanto para o que será consumido no local e as tecnologias colocadas no palco. “As holografias, por exemplo, são processos que permitem a fusão dos músicos no palco com grandes ídolos do passado, como presenciei recentemente em Londres, no espetáculo Abba Voyage, em Arena construída pelo próprio grupo a um custo de 150 milhões de dólares”. As novidades estão em todos os momentos da cadeia produtiva e a Opus, assegura, pretende operar cada vez mais com as energias limpas. “Temos como missão a experiência ao vivo. Nosso prazer é realizar o sonho dos fãs e agora a tecnologia também nos permite resgatar o passado, fazer com que o público viva o ontem e o hoje ao mesmo tempo”.

A pandemia trouxe lições importantes para o setor. Foi difícil, segundo Konrath, paralisar as atividades e depois retomar. “Precisamos no reinventar e as cicatrizes ainda irão permanecer por muito tempo. Embora a retomada esteja acontecendo numa velocidade interessante, soubemos virar, a Opus fez um enorme esforço para seguir, mantivemos a maior parte dos colaboradores e agora já estamos chamando de volta o pessoal que havia sido afastado. A retomada será longa”.

Tuca, Carlinhos e Geraldo Foto: Opus

Um dos pontos de apoio, conquistado graças à articulação entre operadores e o poder público no âmbito federal, foi a criação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que instituiu uma nova modalidade de transação tributária, que é a renegociação de débitos junto à Fazenda Nacional em condições facilitadas, descontos de até 70% sobre o valor do débito e parcelamento em 145 meses. Outro benefício é a indenização a quem teve redução de 50% no faturamento, entre 2020 e 2021, calculada com base nas despesas com pagamento de empregados durante a pandemia. A principal medida, entretanto, é alíquota zero por cinco anos no Imposto de Renda Pessoa Jurídica, PIS/Pasep e Cofins. “Além disso, o setor precisou buscar recursos em linhas de crédito. É o que vai no manter vivos e recuperados”, afirmou o presidente da Opus Entretenimento.

Para Carlos, que pode se dizer conhece tudo do setor, afinal o adolescente produtor de eventos escolares, passou a trabalhar na Opus, virou sócio e presidente,  “Há um potencial gigante de crescimento no país. Obviamente, só há crescimento sem informalidade. A nossa indústria vem se preparando muito, atuando em todas as esferas que possam levá-la a ser referência mundial. A gente vende experiências, sonhos. Nós vendemos coração. É muito importante que saibamos reconhecer o grande momento do entretenimento hoje no Brasil”.

Mas, sabe do que esse cara que lida com grandes empresários e os maiores artistas – muitos fãs dele e não o contrário, o que seria normal -, gosta mesmo? É de conseguir tempo na agenda e ficar com a Tuca, as crianças, reunir alguns amigos, colocar uma “janela de costela”, no fogo baixo, abrir um vinho e celebrar a vida.