Porto Alegre, sexta, 26 de julho de 2024
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Opinião: Sobre as recentes nomeações da equipe econômica; por André Perfeito*

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*SOBRE AS RECENTES NOMEAÇÕES DA EQUIPE ECONÔMICA. – POR ANDRÉ PERFEITO*

Todo governo tem um “orçamento de juros” e este pode até topar pagar mais juros se acredita que este orçamento será mais bem alocado em outra área, mas à curto prazo as fichas são fixas.

Particularmente não vejo nada fora do lugar nas nomeações até agora feitas, afinal sempre esteve claro os nomes que estavam na disputa, mas um governo que começou bem antes da posse é de se supor que os famosos 100 dias de governo (quando há uma lua de mel) irá durar só 30 dias, uma vez que já estarão governando há quase 60 quando Lula subir a rampa.

Dito isso cabe três pequenos comentários sobre as recentes nomeações.

1-) Gabriel Galipolo é um profissional experimentado no mercado financeiro, tem uma excelente interlocução com o seus participantes e deve ser um importante nome em passar ao governo as impressões do mercado sobre as políticas que serão implementadas. Talvez ele não seja “ortodoxo” o suficiente para alguns no mercado, mas sem dúvida é alguém que entende o debate sob a ótica da Faria Lima. Sua capacidade de circular “entre mundos” é um ativo importante.

2-) O desafio do ministro Fernando Haddad não é ter nomes ortodoxos ou heterodoxos na sua equipe, mas antes em construir um staff suficientemente heterogêneo para tornar os custos da reorientação da política econômica de Lula ser o menos custosa possível. Não é um desafio trivial, mas me parece ser o ponto central do seu mandato, pelo menos nos primeiros anos.

3-) A nomeação de Mercante para o BNDES me parece mais desafiadora, para dizer o mínimo, e há pelo menos dois motivos para isso. Que o governo Lula não iria privatizar isso já era sabido, este não é o problema, o problema é saber, i-) qual será a política do BNDES nos próximos anos e ii-) se haverá alterações na lei das estatais.

Sobre o ponto ii tenho pouco a dizer, afinal pelo que foi reportado pela mídia aparentemente não deve haver conflito com a legislação vigente, mas se não houver conflito só posso imaginar que o mercado deverá reagir negativamente a isso, afinal a lei das estatais deveria justamente blindar as empresas estatais de nomes políticos.

Não quero com isso dizer que Mercadante não possa assumir, afinal se há espaço para isso não há nada errado, mas apenas salientar que por óbvio o mercado não vai gostar.

O primeiro ponto é mais importante na minha opinião. O governo do PT ficou marcado pela política dos campeões nacionais, política essa extremamente mal vista pela maioria dos participantes do mercado. Para além da leitura negativa desse período há um agravante: hoje o mercado de títulos privados é muitas vezes maior que foi no período do PT e se o BNDES entrar no mercado de maneira agressiva poderá desorganizar uma indústria inteira que foi construída nos últimos anos.

Caberia à Mercadante vir à público o quanto antes para sinalizar o que se pretende para não criar descoordenações maiores que necessárias no mercado de títulos privados.

A simples discussão sobre a TJLP irá canalizar toda atenção do mercado.

É trabalho de qualquer governo eleito construir uma distorção no mercado em direção ao que entende como mais eficiente economicamente e socialmente, afinal o processo eleitoral serve justamente para dizer da “escolha social”, cabe agora ver o quanto as duas partes do balcão estão dispostas a precificar essa nova rota.

*André Perfeito, Economista-Chefe da Necton