Porto Alegre, terça, 24 de setembro de 2024
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Estudo do PUCRS Data Social mostra desigualdade de gênero no mercado de trabalho do RS

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Apesar de possuírem maior escolaridade, mulheres têm média salarial 37,2% menor que a dos homens no estado. André Salata, Izete Bagolin e Ely Mattos integram o PUCRS Data Social / Foto: Matheus Gomes

 

 

No Rio Grande do Sul, em 2021, 31,5% das mulheres ocupadas tinham Ensino Superior completo. Enquanto isso, entre os homens, esse percentual era de apenas 21%. Por outro lado, 35,2% dos homens haviam estudado somente até o Ensino Fundamental, sendo este percentual de 23,3% entre as mulheres. A maior escolaridade, no entanto, não tem sido capaz de garantir nem mesmo uma equiparação da renda do trabalho entre gaúchas e gaúchos. Ainda em 2021, o rendimento do trabalho entre os homens era 37,2% maior do que entre as mulheres: enquanto elas obtinham uma renda média de R$ 2.380,00, a deles era de R$ 3.267,00. E mesmo entre mulheres e homens com a mesma qualificação, a desigualdade se mantinha. Se, para os homens com Ensino Superior completo, a renda média era de R$ 6.589,00, entre as mulheres essa caía para R$ 3.888,00.

Estes e outros dados sobre o tema estão reunidos no Levantamento Sobre Desigualdade de Gênero no Rio Grande do Sul, produzido pelo PUCRS Data Social, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A fonte das informações é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações dizem respeito à população ocupada com idade entre 25 e 64 anos. Todos os valores de rendimento estão deflacionados para preços médios de 2021.

Como reflexo dos dados acima mencionados, as mulheres estão sobrerepresentadas na base da pirâmide da renda do trabalho aqui no RS, de modo que apenas uma pequena parcela consegue se aproximar do topo daquela distribuição. Apesar de representarem aproximadamente 43,2% da população ocupada do estado, entre os 10% com maiores rendimentos somente 30% são mulheres. Já no estrato inferior, dos 10% de trabalhadores com menores rendimentos, uma maioria de 57,7% são mulheres.

“Essa predominância de mulheres ocupando cargos de menor remuneração pode estar associada a um conjunto de fatores individuais, familiares e sociais que vão desde a existência de profissões consideradas mais femininas até as barreiras efetivas que as mulheres enfrentam para ascender aos cargos de melhor remuneração”, destaca Izete Bagolin, pesquisadora do PUCRS Data Social.

A partir de técnicas de decomposição estatística, o estudo também mostra que mesmo quando levamos em consideração fatores como a experiência no trabalho, a carga horária, o nível educacional, o setor de atividade, a posição na ocupação, o local de moradia, entre outras características, permanece uma importante desvantagem de 24% no salário das mulheres em relação ao dos homens. Ou seja, mesmo quando comparamos mulheres e homens semelhantes em termos das características acima citadas, mulheres tendem a ter uma renda do trabalho significativamente menor.

Segundo André Salata, coordenador do PUCRS Data Social, os resultados vão ao encontro de trabalhos anteriormente realizados, sugerindo que o gênero é um elemento relevante no mercado de trabalho, em prejuízo das mulheres. “Parte significativa dessa desigualdade poderia provavelmente ser atribuída a fatores não controlados pelos modelos estatísticos, como as diferenças de áreas de formação de acordo com o sexo, por exemplo”, ressalva o pesquisador.

Como um de seus resultados mais relevantes, o estudo aponta que essa desigualdade de renda atribuída ao gênero não apresenta qualquer sinal mais evidente de redução ao longo dos últimos anos aqui no RS. Conforme já informado, em 2021, as mulheres sofriam uma redução de 24% em seu rendimento quando comparadas a homens com características semelhantes. Nove anos antes, no início da série histórica da PNADc, esse percentual era muito parecido, de 24,6%. Portanto, no espaço de quase uma década, e apesar de algumas variações, não há indicação de reduções na desvantagem sofrida por mulheres no mercado de trabalho gaúcho.

“Esse diferencial negativo de renda, não explicado por fatores produtivos e potencialmente associado a fatores individuais ou não relacionados diretamente ao trabalho, tem caráter mais estrutural do que conjuntural. Mudar essa realidade implica repensar elementos sociais mais profundos”, declara Ely José de Mattos, coordenador do PUCRS Data Social.

Os resultados mostram ainda que a vantagem dos homens tende a aumentar conforme aumentam os anos de escolaridade. Isso acontece, segundo Salata, “porque o prêmio pago por cada ano de estudo é menor para mulheres do que para homens, sendo este um dos principais fatores explicando a desigualdade verificada”. Como consequência, enquanto a renda predita para homens com quatro anos de estudo é 19,5% maior do que aquela para mulheres com a mesma escolaridade, entre indivíduos com 15 anos de escolaridade aquela vantagem sobe para 29,5%.