Porto Alegre, sexta, 27 de setembro de 2024
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Clube da Chave: a casa noturna mais intelectual de Porto Alegre, por Marcello Campos/Jornal do Comércio

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Com alta frequência de artistas e intelectuais, casa noturna fundada por Ovídio Chaves foi ícone charmoso de um período entre os dancing-cabarés dos anos 1940 e as modernas boates das décadas seguintes ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC

 

 

Reza a cartilha boêmia que seus adeptos não devem passar para o outro lado do balcão, sob risco de encontrarem sarna para se coçar. Mas há exceções honrosas, e a história de Porto Alegre mostra que a pulga ter o próprio cachorro pode dar certo, ao menos por algum tempo. Que o diga certo sobrado do bairro Rio Branco onde o jornalista, poeta, compositor e violonista Ovídio Moojen Chaves (1910-1978) converteu sua residência em uma das mais célebres casas noturnas do Sul do País entre novembro de 1953 e abril de 1956, antes que o caminhão de mudanças a levasse para o Menino Deus e o Centro até o final daquela década.

Sem luxos, mas esbanjando charme, o número 618 (hoje 624) da rua Castro Alves, esquina com Mariante, catalisou as atenções de uma Capital dividida entre mentalidade conservadora e pretensões cosmopolitas. Logo virou ponto de convergência de uma elite cultural refinada, gente de imprensa e outras figuras de destaque social. Homens e mulheres. Todos fisgados por uma programação de música, artes plásticas, teatro e literatura em um espaço com bar, palco mignon, piano e galeria de exposições na “sobreloja”. Para dançar, dava-se um jeito nos poucos espaços sem mesas ou grupos de conversa.

Não se tratava de mero trocadilho com o sobrenome de seu dono. Finésse adotada por uma boate homônima no Rio de Janeiro em 1953-1955, o “clubinho” da Capital oferecia chaves para que sócios (pagando mensalidade) guardassem a bebida de sua preferência em escaninhos de um armário próximo à copa. “Ovídio era meu herói e deixava que eu ficasse horas ancorado no balcão, com uma cuba-libre que durava a noite inteira”, relembraria o jornalista e escritor santoangelense Fausto Wolff (1940-2008) em crônica de 2006 para o Jornal do Brasil. “Eventualmente, alguma mulher se apiedava de mim e me levava para a casa dela.”

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