Porto Alegre, quarta, 27 de novembro de 2024
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Projeto Pós Covid Brasil busca compreender o legado de sintomas ativos na população que foi infectada. Pesquisa desenvolvida pelo Hospital Moinhos de Vento por meio do Proadi- SUS já recrutou mais de duas mil pessoas em todo o país 

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Médico responsável pelo estudo, Regis Goulart Rosa. diz que, “Os dados resultantes do projeto serão fundamentais. Vamos compreender, no contexto do SUS, informações relevantes para um processo de reconhecimento desses pacientes para, então, fornecer uma reabilitação adequada”. Foto: HMV

Vencido o momento agudo da Covid-19, há um novo olhar da medicina para os impactos que a doença deixou para quem sofre com a Covid Longa (Long Covid). O projeto Pós Covid-19 Brasil mira os estudos científicos aos pacientes que ainda sentem sintomas em consequência da doença – mesmo que, em alguns casos, meses já tenham se passado após a recuperação do período viral.

Realizado no Hospital Moinhos de Vento na quinta-feira (18), o evento Conexão Proadi apresentou os três estudos que compõem o projeto liderado pela instituição, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) e em parceria com o Ministério da Saúde.

Os dados sobre o impacto da Covid Longa são escassos no Brasil. Por consequência, não há dimensão real sobre o quanto esse problema é refletido no SUS, no que diz respeito à nova demanda por atendimento, explicou o médico pesquisador responsável pelo estudo e chefe do Serviço de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento, Regis Goulart Rosa. “Os dados resultantes do projeto serão fundamentais. Vamos compreender, no contexto do SUS, informações relevantes para um processo de reconhecimento desses pacientes para, então, fornecer uma reabilitação adequada”, destacou.

Os sintomas da Covid Longa podem afetar múltiplos sistemas, como o cardiovascular, com o aumento da probabilidade de desenvolver problemas cardiológicos; o nervoso central, com os transtornos de memória, perda de concentração e também distúrbios relacionados à saúde mental, como ansiedade e depressão; o respiratório, com ocorrência de falta de ar e fadiga; e o musculoesquelético.

Nos anos da pandemia, as emergências estavam vazias para doenças que não fossem o SARS-COV-2. Receosos, os pacientes evitavam buscar a rede de saúde. Por isso, hoje, existem muitas dúvidas, como aponta a chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento e membro do Comitê Diretivo dos estudos que compõem o Projeto Pós Covid-19 Brasil, Carisi Anne Polanczyk.

“As pessoas já estavam com problemas cardiológicos durante a pandemia e não souberam pela falta de acompanhamento? A Covid-19 deixou as pessoas mais propensas a desenvolver problemas cardíacos? Os pacientes cardíacos que foram infectados têm uma evolução pior dos seus quadros do que aqueles que não foram infectados?”, ponderou.

A médica ressalta que as respostas para essas perguntas tornam o estudo muito relevante – e que esses questionamentos foram pensados quando da criação do projeto. “Essas conclusões vão nos dar melhores condições de diagnóstico e tratamento”, elucidou.

Projeto Pós Covid-19 Brasil

O projeto será composto por três estudos. O estudo 1 avalia os efeitos da Covid-19 sobre a qualidade de vida dos pacientes moderados e graves que passaram por hospitalização. O estudo 2 analisa os efeitos da Covid-19 sobre a qualidade de vida em pacientes que passaram pela doença sem necessitar de internação. Por fim, o estudo 3, ainda em fase de recrutamento, acompanhará pacientes que necessitaram de internação com necessidade de ventilação mecânica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A consultora técnica científica do Ministério da Saúde, Renata dos Santos Almeida, ressaltou a importância do projeto ao reafirmar a escassez de dados relacionados aos pacientes que sofrem com sintomas prolongados e remanescentes da doença. “Se espera que, a partir desses estudos, haja melhores condições para desenhar uma estratégia de identificação dos pacientes com Covid Longa e, a partir disso, direcionar as políticas e esforços nacionais para o desenvolvimento de serviços de saúde que atendam assertivamente essa população”, explicou.

Mais de duas mil pessoas estão participando das pesquisas em mais de 30 centros conveniados distribuídos por regiões distintas no país. O seguimento dos participantes da pesquisa está programado para finalizar ainda em 2023.