O último dia de trabalhos do 7º Encontro do Conselho de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil começou com a palestra “Desafios contemporâneos: da gestão piramidal à sociedade em rede”, realizada pela filósofa, professora e escritora Viviane Mosé. Autora de 12 livros, com duas indicações ao Prêmio Jabuti, e apresentadora de séries em programas de televisão, a capixaba, que é psicóloga e psicanalista, falou sobre o atual momento da humanidade em função da sociedade em rede promovida pela internet. “Não podemos controlar e nem segurar o avanço da Inteligência Artificial, mas ela deve ser utilizada a favor da civilização e não justamente em movimento contrário”, disse ela. “Em vários momentos, parece que a vida não tem mais valor, pois o que importa é ter uma grande quantidade de seguidores nas redes sociais, formando verdadeiras bolhas nas quais as pessoas falam entre si sobre o que pretendem. O mundo hoje é feito de diversidade e não de unidade!”, disse ela. Conforme a palestrante, a tecnologia é muito importante para as mudanças necessárias da sociedade, e deve ser incentivada em todos os segmentos, porém sempre quando utilizada a favor da civilização. A filósofa defendeu a mudança do modelo da gestão piramidal para a gestão em rede.
Plenário do TJ gaúcho. Foto: Eduardo Nichele
Ela falou sobre a existência da sociedade em rede, impulsionada pela virtualização, na qual temos exemplos de crianças que sustentam famílias com o uso da internet através do YouTube e outras mídias digitais, invertendo os papéis tradicionalmente gerados pela sociedade. Porém, segundo ela, mesmo sendo importante, tal fato também pode causar exaustões ambiental, econômica e humana, quando não for utilizada de maneira correta. Ela alertou sobre o avanço dos casos de profunda depressão em crianças entre 5 e 14 anos, que aumentou 40% no Brasil na última década. “Estamos vivendo em uma civilização na qual parte da sociedade acaba adoecida pela transformação digital, pois alguns jovens sem perspectivas não se alimentam mais da natureza, mas sim das redes sociais e da inteligência artificial”, acrescentou a psicanalista.
“A inteligência artificial, mesmo sendo um avanço importante, pode ser perigosa, pois controla os humanos, que acabam enfraquecendo mentalmente e se tornam dependentes de remédios para o fortalecimento em função das adversidades, sendo uma prova desta tese o aumento do número de farmácias em todo o Brasil”, afirmou a psicanalista.
Ela acredita que é urgente a necessidade da criação de um novo ser humano, que resgate valores como os usados pelos indígenas, que sabem por métodos naturais qual será a condição climática. “Concluo esta participação destacando que aqui os líderes do Judiciário, assim como dos demais Poderes, devem intensificar a importância da virtualização, mas sempre com a consciência de que o lado humano não pode ser esquecido”, disse ela.
O Presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia, Desembargador Marcos Alaor Diniz Grangeia, agradeceu em nome dos magistrados a palestra de Viviane e disse que “o tema foi muito importante e servirá para uma ampla reflexão acerca da atual situação vivida pela sociedade em todos os aspectos”.
A Mesa Diretora dos trabalhos foi coordenada pela Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, anfitriã do evento, juntamente com o Presidente do TJ de Goiás e do Consepre, Desembargador Carlos Alberto França.
