Uma equipe de cinema consegue acesso ao Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco – unidade policial treinada para lidar com a repressão de aglomerações de civis, incluindo protestos e manifestações. Desta aproximação, surge a primeira versão de Por trás da linha de escudos, lançada em 2017. Alvo de críticas, o filme é retirado de circulação pela equipe, que decide realizar uma nova edição do documentário a partir do mesmo material bruto. Além de apresentar o cotidiano e o ponto de vista dos policiais, o longa, agora, também comenta a própria feitura do documentário, seus dilemas e contradições. O premiado documentarista Marcelo Pedroso (de Brasil S/A e Pacific)apresentou pela primeira vez o longa “Por trás da linha de escudos”em 2017, nos festivais de cinema de Cachoeira (BA) e Brasília (DF). Nessas ocasiões, o documentário foi recebido pelo público de forma crítica, levando a equipe realizadora a retirar o título de circulação. “Diante do momento histórico que estávamos vivendo, nos pareceu impossível continuar veiculando aquele filme”, afirma o diretor e roteirista em narração no início da versão inédita, trabalhada nos últimos anos.
A produção estreia em Porto Alegre no dia 13 de julho, quinta-feira, na Cinemateca Capitólio (R. Demétrio Ribeiro, 1085), com sessões diárias às 17h. Atualmente, o filme também está em cartaz em Fortaleza, Maceió e Recife.
O BPChoque (Batalhão de Polícia de Choque) foi criado em 1980 com o objetivo de controlar distúrbios civis, rebeliões em estabelecimentos prisionais e garantir a segurança em estádios desportivos e em eventos com multidões. No documentário, o diretor e a equipe acompanham algumas operações de rotina, registram o interior da corporação e os treinamentos no batalhão.
O quarto longa de Pedroso teve como ponto de partida os embates entre a PM de Pernambuco e os ativistas do Movimento Ocupe Estelita (MOE). O movimento teve início em 2012, e a reintegração de posse do terreno aconteceu em junho de 2014 no cais da capital pernambucana. O cineasta era um dos militantes da causa. O uso de força naquele episódio, utilizando as armas tradicionais (spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha), ficou marcado na história da militância pelo direito à cidade no Recife.
Ao abordar a questão da segurança pública no Brasil, “Por trás da linha de escudos” assume uma postura crítica sobre o caráter militar da polícia. O filme postula que, ao atribuir à polícia a lógica de um exército, o Estado Brasileiro implementa um aparato de violência voltado para controlar ou dirimir parcelas da população brasileira que são tratadas como inimigas. Não por acaso, estes setores da população correspondem justamente às camadas periféricas, não-brancas, historicamente desprovidas de direito. Ao levantar a bandeira da desmilitarização da polícia, o documentário se alinha à luta histórica de movimentos em defesa da justiça social.
O longa circunscreve sua crítica à lógica estrutural da violência operando uma escuta dos policiais. Reconhecidos enquanto sujeitos, os agentes da repressão são acessados pelo documentário dentro das próprias limitações impostas pelo militarismo. Ao longo das entrevistas, vai-se constatando a eficácia da doutrina militar em cercear a possibilidade de surgimento de um senso crítico e até mesmo de empatia entre integrantes da corporação.
A pesquisa para realização do filme começou em maio de 2016, e as filmagens aconteceram entre os meses de agosto e setembro daquele ano, bastante simbólico para o Brasil e o mundo, quando aconteceu o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.
A decisão por reutilizar o material bruto do longa original em uma nova edição chama atenção para uma característica da obra do diretor e roteirista, que sempre evidencia a potência do dispositivo nos seus documentários e tensiona a relação do olhar do realizador com as imagens do real, provocando questionamentos. O trabalho de reedição do material foi conduzido por Pedroso e pelo montador do filme, o também realizador Ernesto de Carvalho.
Trabalhando na área do audiovisual há quase 20 anos, Marcelo Pedroso é cofundador da Símio Filmes, produtora de cinema recifense. Entre as obras que realizou, estão os longas-metragens Brasil S/A (2014, melhor roteiro e direção no Festival de Brasília), Pacific (2009, melhor longa no Cine Esquema Novo), KFZ-1348 (2008, Prêmio do Júri da Mostra de São Paulo) e os curtas Câmara Escura (2012, melhor filme no Curta Cinema – RJ) e Corpo Presente (2011, melhor montagem na Mostra de Londrina).
O diretor é doutor em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco, com pesquisa sobre documentário contemporâneo. Ele atua também como educador, lecionando atualmente na Universidade Católica de Pernambuco e na UniAeso, além de ter dado cursos e oficinas em diversas regiões do país.
A produção de Por trás da linha de escudos é assinada por Kika Latache e Lívia de Melo, com fotografia de Luis Henrique Leal, som direto de Rafael Travassos e direção de arte de Carlota Pereira. O longa teve financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), Ancine, BRDE e do Governo do Estado de Pernambuco, através do Funcultura – 8° Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco.
POR TRÁS DA LINHA DE ESCUDOS
(Longa-metragem documental | 96 minutos | Cor | 2023) | Classificação Indicativa: 10 anos
Estreia em Porto Alegre (RS) no dia 13 de julho (qui), às 17h, na Cinemateca Capitólio (R. Demétrio Ribeiro, 1085)
FICHA TÉCNICA
Empresas Produtoras: Símio Filmes e Vilarejo Filmes
Distribuidora: Inquieta
Direção e roteiro: Marcelo Pedroso
Montagem: Ernesto de Carvalho
Fotografia: Luís Henrique Leal
Direção de arte: Carlota Pereira
Edição de som: Rafael Travassos e Daniel Moraes
Som direto: Rafael Travassos
Mixagem de som: Gera Vieira
Produção: Kika Latache e Livia de Melo
Direção de produção: Ariana Gondim
Direção musical: Mateus Alves
Consultoria de Roteiro e Direção: Déa Ferraz
Preparação de elenco e coreografia: Valéria Vicente
FILMOGRAFIA DO DIRETOR
Longas
BRASIL S/A – Ficção – 71 minutos – DCP – 2014 (diretor e roteirista)
47° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (melhor direção, melhor roteiro, melhor som, melhor trilha e melhor montagem)
65° Berlinale (Festival de Berlim)
X Panorama Internacional Coisa de Cinema (Melhor Longa-Metragem)
VI Semana dos Realizadores (Prêmio EDT Ricardo Miranda de Montagem de Invenção e Prêmio ABD – RJ)
4ª Mostra Ecofalante (Melhor Filme)
8º Festival de Cinema de Triunfo (Melhor Ator: Edilson Silva; Melhor Som, Melhor Produção, Melhor Roteiro, Melhor Direção)
7° Janela Internacional de Cinema
18ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Durban International Film Festival
Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de Havana
PACIFIC – Documentário – 74 minutos – HDV – 2009 (diretor/roteirista/ montador)
13º CineEsquemaNovo (Melhor longa-metragem)
12ª Mostra do Filme Livre (RJ) (Melhor Filme)
4º Panorama Coisa de Cinema (BA) (Melhor longa-metragem)
I CachoeiraDoc (Melhor longa-metragem)
29a Bienal de Artes Plásticas de São Paulo (Seção Terreiros)
KFZ-1348 Documentário – 81 minutos – 35 mm – 2008 (diretor/roteirista)
32a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Prêmio do Júri)
13º CinePE (Melhor Filme – Mostra Pernambuco)
Trabalhos em curta-metragem e média-metragem
EM TRÂNSITO Ficção – 18 min – HD – 2013
Janela Internacional de Cinema do Recife (Melhor curta)
Panorama Coisa de Cinema de Salvador (Melhor curta – júri jovem)
CÂMARA ESCURA Documentário – 15 minutos – 35 mm – 2012 (diretor/roteirista/montador)
Festival Internacional de Curtas do Rio (Grande prêmio)
ForumDoc BH
CORPO PRESENTE Ficção – 20 minutos – 35 mm – 2011 (diretor/roteirista)
Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo
Festival de Santa Maria da Feira (Portugal)
BALSA Documentário – 46 minutos – HDV – 2009 – 48 minutos (diretor/roteirista/montador)
Contemplado pelo concurso de roteiros Ary Severo (Gov. PE)
I Semana dos Realizadores (RJ)
15 CENTAVOS Documentário – 12 minutos – MiniDV – 2007 (diretor/roteirista/ montador)
Festival de Vídeo do Recife (melhor documentário)
Festival Internacional de Curtas-metragens de SP (Kinofórum)
Mostra do Filme Livre (RJ)
AluCiné (Canadá)