Porto Alegre, quinta, 10 de outubro de 2024
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Primeira visita guiada com audiodescrição permite que pessoas com deficiência visual conheçam a Expointer

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Grupo ligado à Faders percorreu quadras e pavilhões, acariciou animais e visitou exposição de arte com acessibilidade. Visita guiada: PCDs puderam tocar animais na feira - Foto: Mariana Ribeiro/Ascom Expointer

 

 

“À nossa esquerda tem um cavalo preto lindíssimo. Parece uma seda o pelo dele. Nós estamos fazendo um círculo pela quadra. Estamos passando por uma área onde se encontram cavalos de todas as cores, prontos para competir”. Assim começou a primeira visita guiada com audiodescrição na Expointer. A iniciativa pioneira buscou contemplar públicos que até então ficavam de fora da experiência de conhecer o parque e as atrações da feira devido à limitação do sentido visual.

O presidente da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PCD E PCAH no RS (Faders), Marquinho Lang, foi quem organizou a visita e explicou que está sendo feito um movimento de adequação da Expointer, mas que é a primeira vez que ocorre uma audiodescrição coletiva. “A gente queria que eles não só passassem pela feira, mas que pudessem sentir e saber exatamente o que está acontecendo. Às vezes algo que é tão óbvio aos nossos olhos é invisível para eles, por isso é tão importante proporcionar a visita guiada”, justifica.

25 pessoas com deficiência visual de entidades ligadas a Faders, acompanhadas de três audiodescritores da fundação, puderam conhecer a Expointer de maneira mais participativa. Oriundos de Canoas, Lajeado, Porto Alegre, Nova Santa Rita e Novo Hamburgo, o grupo iniciou a visitação saindo do portão 5, contornando as áreas de imprensa e seguindo em direção ao Pavilhão Internacional.

Representante da Divisão de Atenção à Pessoa com Deficiência do Departamento de Diversidade e Inclusão da Secretaria Estadual de Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Clairton Bassin Pivoto, esteve junto na guiada. “Em termos de acessibilidade, já foram feitas mudanças arquitetônicas, o que dá luz para isso, e, a partir de agora, coisas começam a ser pensadas” exemplifica Pivoto, que também é cadeirante.

A professora aposentada Marilena Assis nasceu no campo, em Santo Antônio da Patrulha, e já tinha vindo à Expointer, mas nunca com acessibilidade. “É um lugar desconhecido para quem não enxerga. Nossa vida toda é pensada de maneira diferente. Lecionei, sou consultora de audiodescrição e participo desde quando se iniciou processo, virando política pública. O principal aqui é ver a premissa da acessibilidade entrando como um trabalho social e de legitimação cultural, e não apenas mais uma obrigatoriedade legal que é cumprida”, argumentou a professora acompanhada da cão-guia Estrela, sua fiel companheira.

Clarissa Monteiro, escritora de Porto Alegre, nunca tinha encostado em um pônei. “É muito bom poder sentir assim de pertinho”, conta emocionada após fazer carinho no animal que era conduzido entre as quadras de competição.

A experiência sensorial de tocar os animais e ouvir dos audiodescritores a cor do pelo, o movimento e a localização encantava o grupo a cada parada. A comunicação feita basicamente por comandos de voz organizava o grupo – que se dividiu em três grupos menores – para que ninguém se perdesse nem deixasse de participar de alguma situação pelo caminho.

Um dos momentos mais emocionantes da visita guiada foi no Pavilhão Internacional, no estande da Estância da Arte. A exposição “Alma Campeira”, de curadoria de Marciano Schmitz, trouxe a possibilidade de audiodescrição das obras expostas, prancha tátil ao lado das telas e esculturas que podiam ser encostadas.

Cristal Cardoso é do Rio de Janeiro, atualmente mora em Novo Hamburgo, na região metropolitana e descreve o que sentiu ao ouvir a audiodescrição e encostar na prancha tátil – uma espécie de tela em 3D em que é possível tocar e sentir a textura e os detalhes por meio das mãos. “É uma sensação e liberdade poder ver aquilo que os olhos não conseguem ver. É diferente, é gostoso. Você viaja na descrição. Ele (o facilitador da exposição) estava fazendo a descrição do céu azul eu falei para ele que quando eu perdi a visão, foi o último céu que eu vi. Então isso marcou muito forte em mim, logo veio a lembrança minha na mente dessa imagem”.

O presidente da Faders afirma que esta foi a primeira edição e serve para educar público, expositores e demais visitantes e também para observar o que precisa ser melhorado para os próximos anos. O estande da acessibilidade é fixo durante a Expointer e fica localizado no meio do Pavilhão Internacional.