O vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), Gilberto Porcello Petry, participou nesta terça-feira, em Frankfurt, do painel Reindustrialização, Neoindustrialização e Digitalização, dentro do Programa Internacional de Alta Formação “Digitalização e Democracia: Um Diálogo Brasil-Europa”. Petry representou a CNI no evento realizado pela Escola Superior de Advocacia Nacional do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em parceria com a Universidade Johann Wolfgang Goethe. “A digitalização vem provocando uma verdadeira revolução no setor industrial. Para se adequar a esse movimento, conhecido como Industria 4.0, as empresas têm investido na integração do mundo físico com o virtual em sistemas ciberfísicos, como os robôs, a internet das coisas e as máquinas conectadas em rede”, destacou em sua apresentação.
Gilberto Petry dividiu o painel com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e atual professor titular sênior da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Ricardo Lewandowski, e o desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Ricardo Couto. Também participaram o vice-presidente da Esta Apparatebau e ex-parlamentar alemão Alexander Kulitz, e o vice-presidente jurídico, de relações governamentais e sustentabilidade da Siemens Brasil, Luis Felipe Gatto Mosquera. O painel foi moderado pelo gerente executivo de estratégia jurídica da CNI, Alexandre Vitorino. “Essas tecnologias trazem ganhos de eficiência que, em outros tempos, eram impensáveis. Permitem a formação de ecossistemas inteligentes e autônomos, a instalação de fábricas descentralizadas, e a produção de bens e serviços integrados, que elevam a produtividade e têm efeitos positivos em toda a economia”, disse Petry.
Ele ressaltou ainda que a digitalização facilita o desenvolvimento de soluções que diminuem o impacto ambiental dos processos produtivos, como a racionalização do consumo de energia e outros insumos naturais, aumentando também a produtividade e a competitividade das empresas.
O presidente da FIERGS apresentou números que confirmam a força do setor industrial para gerar riquezas. No Brasil, cada real produzido na indústria gera R$ 2,44 na economia como um todo. A indústria é a principal fonte de inovação da economia, pois responde por mais de 65% dos investimentos empresariais em pesquisa e desenvolvimento. O setor cria empregos de qualidade e paga salários maiores do que as demais atividades, ressaltou. Mesmo assim, lembrou que, na última década, enquanto a agropecuária cresceu, em média, 2,7% ao ano, e o setor de serviços, 0,8%, o Produto Interno Bruto (PIB) subiu apenas 0,5% ao ano, devido ao resultado aquém da indústria de transformação, que encolheu 1,3% na média anual. “Apesar das evidências sobre a importância do setor para o desenvolvimento, o Brasil vive um processo de desindustrialização precoce, que se reflete na perda acelerada de participação da indústria na economia doméstica e internacional”, afirmou Petry. A indústria de transformação brasileira, que foi responsável por quase 36% do PIB nos anos 1980, representa, hoje, apenas 12,9% da economia nacional.
O processo de desindustrialização é causado, segundo Petry, sobretudo pela baixa produtividade e pelo conjunto de entraves conhecido como Custo Brasil, que encarecem a produção e reduzem a competitividade das empresas. Entre os fatores que contribuem para a elevação do Custo Brasil e inibem os investimentos, apontou, estão a instabilidade regulatória e a insegurança jurídica, principalmente, no campo tributário. As empresas enfrentam, ainda, problemas com a infraestrutura, o excesso de burocracias e as dificuldades de acesso ao crédito. Por isso, é importante que o país adote as medidas necessárias para resolver esses entraves e adote um projeto de desenvolvimento industrial e tecnológico de longo prazo.
ESTRATÉGIA NACIONAL
Para contribuir com a elaboração de uma estratégia nacional de fortalecimento do setor industrial, o presidente da FIERGS salientou que a CNI apresentou ao governo o Plano de Retomada da Indústria. São iniciativas nas áreas de descarbonização, transformação digital, saúde e segurança sanitária, defesa e segurança nacional, consideradas prioritárias para o Brasil dar respostas adequadas aos problemas relevantes da sociedade. O Plano da CNI também detalha 60 propostas de ações horizontais para melhorar o ambiente de negócios e reduzir o Custo Brasil. “Nesse sentido, nossa prioridade é a aprovação da reforma dos tributos sobre o consumo. Essa mudança, que já passou na Câmara dos Deputados e está em apreciação no Senado, é fundamental para que o Brasil tenha um sistema de arrecadação de impostos mais eficiente e simples, que garanta segurança jurídica para os investimentos produtivos”, pontuou.
Além disso, a CNI lançou, este ano, um Guia de Boas Práticas de Proteção de Dados. O documento sugere padrões para a implantação de práticas capazes de aumentar a confiança de fornecedores, clientes e outros parceiros, além de proteger a privacidade nas organizações. “Digitalização, inovação, sustentabilidade e maior integração ao comércio mundial são a base da neoindustrialização brasileira”, observou.
Por fim, Petry afirmou aos participantes do painel que o Governo Federal tem adotado medidas para estimular a indústria nacional, entre elas a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a reativação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, e a elaboração de uma nova política industrial que deve ser lançada no fim do ano. Além disso, o governo anunciou, ainda, dois projetos estruturantes para o país: o Novo PAC e o Plano de Transformação Ecológica, que é liderado pelo Ministério da Fazenda. Na área da inovação, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), lançou medidas para estimular a digitalização e as exportações brasileiras.