Porto Alegre, segunda, 14 de outubro de 2024
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Denúncias de antissemitismo aumentam 961,36% no Brasil desde ataques terroristas do Hamas contra Israel, aponta estudo

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CONIB e FIRS apresentam dados inéditos em eventos em Porto Alegre e outras capitais que marcam o Dia Internacional do Combate ao Fascismo e Antissemitismo.

 

O aumento da violência e do discurso de ódio a partir do conflito no Oriente Médio é uma realidade preocupante, evidenciada por dados da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e da Federação Israelita do Rio Grande do Sul. Mesmo geograficamente distante da guerra, o Brasil tem o registro de crescimento de 961,36% de denúncias antissemitismo apenas no mês de outubro, em comparação ao mesmo mês do ano passado.

O estudo foi apresentado nesta quinta-feira (9), em eventos em Porto Alegre e em outras quatro capitais do país – Brasília, São Paulo, Recife e Salvador – que marcam o Dia Internacional do Combate ao Fascismo e Antissemitismo. “O antissemitismo materializado nunca deixou de existir, ele é uma das facetas do racismo e do preconceito que atinge vários segmentos da sociedade. A prova que não aprendemos nada com a noite dos cristiais quebrados é o antissemitismo que vem crescendo há anos e potencialiizou desde os ataques realizados pelo grupo do Hamas”, afirmou o presidente da FIRS, Márcio Chachamovich.

Foram 467 denúncias registradas no Departamento de Segurança Comunitária CONIB/FIRS no mês passado, contra 44 em outubro de 2022. Crianças, jovens, homens e mulheres de todas as idades que sofreram algum tipo de violência por serem judeus. Se considerado o acumulado do ano, de janeiro a outubro, o aumento é de 133,6%.

“O ódio disfarçado de críticas estão escondidas sobre o manto da liberdade de expressão não pode justificar o preconceito, a discriminação ao povo que tem seu direito ao estado. O antissionismo se revela a partir do momento que a crítica exacerbada, muitas vezes fruto de desinformação ou por ódio, se estabelecia não somente contra o estado de Israel. O antissemita, tal qual o racista, odeia por odiar. Não reconhecer o seu semelhante e respeitar o outro, é o cerne do antissemitismo. O antissemitismo é uma doença grave, mas pode ter cura”, aponta Chachamovich.

A apresentação dos dados para jornalistas e autoridades foi marcada por uma série de exemplos de ofensas e manifestações públicas do discurso de ódio contra Israel e contra os judeus. Os números refletem as denúncias que chegam aos canais da Conib, mas acredita-se que há subnotificação.

Principais dados

↑ 961,36% das denúncias antissemitismo em out/2023 (467) em comparação a out/2022 (44)
↑ 133,6% das denúncias antissemitismo no período de jan-out/2023 (876) em comparação a jan-out /2022 (375)
↑ 24,17% no período anterior ao conflito, de jan-set/2023 (411) em comparação a jan-set/2022 (331)

O evento em Porto Alegre contou com a participação do Doutor em Comunicação e professor da PUCRS, Jacques Wainberg, da titular da Delegacia de Combate à Intolerância no RS, Tatiana Bastos e do Coronel João Trindade, Ex-Comandante da Brigada Militar aposentado, que compartilharam suas experiências, destacando a persistência do discurso de ódio no contexto político, enfatizando a necessidade de combater o preconceito e promover a educação.

A delegada, o professor e o coronel, também trouxeram insights sobre o tema e a importância de alcançar tanto os jovens quando os seus pais sobre o antissemitismo. E ainda, abordaram temas como intolerância, liberdade de expressão e a ligação entre educação e ética.

Escolhido pelo Parlamento Europeu como o Dia Internacional contra o Fascismo e Antissemitismo, o dia 9 de novembro tem um significado histórico. Nesta data, em 1938, tropas nazistas destruíram casas e estabelecimentos comerciais de judeus, incendiaram sinagogas em várias cidades alemãs e dezenas de judeus foram mortos – um número que pode chegar a mil. No dia seguinte, as ruas estavam cobertas de vidros quebrados, por isso, o episódio passou a ser conhecido como a Noite dos Cristais Quebrados.

“Esse pogrom é considerado hoje o marco inicial da perseguição aos judeus que culminou no Holocausto. Rememorar o 9 de novembro, ano a após ano, assinala o dever compartilhado de manter viva essa memória para as futuras gerações, para que nunca mais se repita”, declara o presidente da Conib, Claudio Lottenberg.

Sobrevivente da Noite dos Cristais Quebrados

O evento de São Paulo foi marcado pela participação da senhora Margot Bina Rotstein, de 91 anos, sobrevivente da Noite dos Cristais Quebrados. Ela tinha seis anos e morava com o pai e a mãe na cidade de Berlim, e tem memórias vivas do que aconteceu.

“Lojas, sinagogas, livros sagrados, tudo em chamas, tudo quebrado, tudo destruído! Tristes marcas que vão muito além das estrelas amarelas, dos triângulos rosa, suásticas, caricaturas, ofensas e proibições que há tempos vinham nos perseguindo. Por que? Para que? Hoje, após ao menos três gerações, com muita dor, revejo e escuto na minha mente, tudo o que as crianças de hoje estão passando ao vivo e a cores”, declarou