O dia 31 de dezembro de 2023 ficará marcado na história de Nataly Rodrigues Chaves, de 18 anos, e também da Santa Casa de Porto Alegre. A paciente, que aguardava na lista de espera por um rim há 10 meses, recebeu a ligação com a notícia de um órgão compatível para transplante enquanto viajava com a família ao interior do Rio Grande do Sul. O gesto de solidariedade de mais uma família, ao dizer sim à doação de órgãos, também permitiu que a Santa Casa atingisse a marca de seis mil transplantes renais, trabalho realizado há 46 anos na instituição.
Natural de Panambi, Nataly precisou se mudar para a região metropolitana de Porto Alegre em 2023 para ficar mais próxima do hospital onde realizaria o transplante. O tempo entre a notícia e a realização do procedimento é sempre um fator crucial nesse momento. Mas a ligação acabou chegando às 18h50 do dia 30 de dezembro, justo durante uma viagem à familiares no município de Inhacorá, há 480 km de distância da capital, iniciando uma corrida contra o tempo. “Foi um misto de felicidade e nervosismo. A notícia que eu mais estava esperando aconteceu quando eu estava longe. Precisava chegar a tempo e eu acreditei nisso o tempo todo”, lembra a paciente.
Para garantir que não houvesse imprevistos, a família de Nataly não pensou duas vezes e buscou ajuda. Foi então que encontraram o apoio da Secretaria de Saúde do município de Inhacorá e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizou a escolta da paciente entre Panambi, no noroeste, e Porto Alegre. A jovem chegou no hospital às 2h30min e ainda durante a madrugada entrou para o bloco cirúrgico. O transplante, que durou pouco mais de duas horas, ocorreu sem intercorrências e já nesta sexta-feira (5/1) a jovem pôde voltar para casa.
Nataly, que desde junho de 2022 precisava realizar hemodiálise para viver, agora inicia o ano de 2024 com novas possibilidades. Um recomeço que, no Rio Grande do Sul, mais de 2.800 pessoas ainda aguardam na lista de espera por um órgão.
Seis mil transplantes renais
O procedimento realizado por Nataly também foi um marco para a Santa Casa. Quando saiu do bloco cirúrgico, a equipe de transplantes renais alcançou a marca de seis mil transplantes de rim realizados na instituição. O primeiro procedimento foi realizado em 1977, quando uma paciente de 16 anos recebeu o órgão da mãe.
“Esse é um marco que só foi possível graças a milhares gestos de generosidade e solidariedade. A cada sim de uma família, o doador se torna um herói silencioso, responsável por transformar a tragédia em uma chance de recomeço para outros pacientes. É a única chance para quem está em lista de espera”, destaca o nefrologista Valter Duro Garcia, coordenador do Serviço de Transplantes Renais da Santa Casa.
Ainda, entre janeiro e dezembro de 2023, 295 pacientes que aguardavam na lista de espera por um rim tiveram a vida transformada na Santa Casa. Esse foi o maior número de transplantes com o órgão realizado na instituição em um único ano.