Porto Alegre, sexta, 03 de maio de 2024
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Porto Alegre: Individual de Luciana Maas na Fundação Iberê mostra as técnicas possíveis da pintura tendo o tênis como objeto principal

Detalhes Notícia
Balanço abre dia 13 de abril, às 14h, no Átrio, seguido de visita guiada pela artista. Entrada gratuita.

No dia 13 de abril (sábado), a Fundação Iberê inaugura Balanço, a primeira individual de Luciana Maas (SP) em um museu. Com curadoria de José Augusto Pereira Ribeiro, a artista apresenta, pela primeira vez, as três principais séries a que se dedicou nos últimos 15 anos: os Tênis, as Lonas, e os Balanços, todas em grandes formatos e com grande liberdade nos golpes dos pincéis e nas articulações entre figura e fundo. São cerca de 20 trabalhos que permitem um mergulho completo em sua obra e no seu imaginário.

No processo de cada pintura, entram em disputa pensamentos contrários, gestos largos e mínimos, ligeiros e lentos, sujos e minuciosos, materiais distintos (a tinta a óleo, o bastão oleoso, o spray) na obsessiva atividade de colocar, espalhar, raspar e retirar tinta, de pintar, apagar, sujar e pintar de novo, de mexer e mexer em franco vaivém.

“‘Fazer’ implica a destruição – e implica, por consequência, a contradição –, nos processos de trabalho de Luciana Maas (…) As obras são inteiras, carregadas, densas. Resultam em superfícies preenchidas por sobreposição e mais sobreposição de matéria e atividade. Outro paradoxo aparente se refere justamente ao fato de que pinturas tão impregnadas de substância e ação sejam povoadas por corpos descarnados, mutilados, por objetos em desmancho, metidos em espaços incertos, envolvidos por luzes fluorescentes, nuvens de fumaça e gás – que, a julgar pelo brilho e pelas cores, são radioativos. Agora, se ainda assim os trabalhos inspiram inacabamento é porque, prontos, restam ainda como se estivessem em aberto, com seus acontecimentos em marcha contínua, de formação, distorção, desmoronamento e construção, de novo, de suas partes, de maneira diferente a cada vez, a cada exame – sobretudo nas telas pintadas por Luciana Maas a partir de 2012”, destaca Ribeiro em seu texto curatorial.

A ênfase nos processos de elaboração se torna evidente no andamento do trabalho de Luciana à medida que a artista reitera a opção por pintar somente tênis por anos consecutivos, de 2010 a 2015. Depois disso, eles continuam a aparecer no trabalho, porém, intercalados já com outras ideias. Nessas obras, os calçados são quase sempre vistos de cima para baixo com uma paleta de cores restrita, reduzida ao preto, branco e amarelo, com inserções pontuais de vermelhos, verdes e azuis.

“Há trabalhos gráficos, com traços ligeiros, decididos na observação do objeto e produzidos com tinta preta, que desenham os tênis; há outros com muita matéria, aplicadas em pinceladas enérgicas, que arrastam pela superfície uma tinta espessa, como lama, e se cruzam, no limiar do informe (“Respingo”, 2012); há telas em que mal se identificam os sapatos nem figura nenhuma (“Batom”, 2012); assim como há pinturas silenciosas, rebaixadas, em que os calçados, vistos do alto, repousam quase ao centro do quadro, levemente à esquerda, enquanto seus limites se desmancham e se confundem, quase sob fumaça, com o entorno, em imagem acinzentada, com um pouco de amarelo nas laterais dos objetos (“Tênis Ela”, 2010)”, diz o curador.

Já em Lonas, a pintura se expande em grandes abstrações ao estilo de Jackson Pollock e o “all over”, mas também remetem a um certo “pixo” característico dos centros urbanos. Em Balanços, as figuras surgem como se fossem lançadas a partir do fundo. Nesta série, de grande liberdade, Luciana utiliza todas as técnicas possíveis, desde a pintura com pincel, mas também com a mão ou mesmo a tinta spray, sem permitir qualquer hierarquia entre as diferentes técnicas.  

“No conjunto das obras, podemos observar a grande influência de Iberê Camargo na sua atitude de pintar quase em estado de confronto com a pintura. Luciana também é influenciada pela pintura alemã dos anos 1980 e 1990 e do neo-expressionismo como um todo”, afirma o curador e proprietário da Galeria Projeto Vênus, Ricardo Sardenberg.

Localizado na Travessa Dona Paula, em duas das casas construídas no final da década de 1940 para abrigar operários que trabalhavam na construção do bairro de Higienópolis, em São Paulo, o Projeto Vênus nasceu para oxigenar a nova geração de artistas e despertar a atenção no cenário nacional. Segundo Sardenberg, há uma quantidade considerável de artistas com trabalhos potentes, mas que ainda não foram absorvidos pelo mercado. Alguns deles já participaram de coletivas, mas muitos têm uma produção pronta para uma individual, como é o caso de Luciana Maas.

A Travessa Dona Paula é uma vilinha de pouco mais de 140 metros, em formato de L, escondida ao lado do Cemitério da Consolação. Além de um polo de arte contemporânea, com galerias e ateliês de artistas, reúne, ainda, cafés, padaria, e espaço de coworking em casas tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). 

SERVIÇO
Exposição Balanço
Artista:
Luciana Maas
Curador: José Augusto Pereira
Abertura: 13 de abril | Sábado | 14h
Visitação: até 9 de junho (domingo)
Onde: Átrio da Fundação Iberê (Avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal)
No dia da abertura, a entrada é gratuita