Porto Alegre, terça, 22 de outubro de 2024
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ANÁLISE: DINHEIRO É LIQUIDEZ E NÃO SABER CANALIZAR ISSO É UM DESASTRE; POR ANDRÉ PERFEITO*

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Certa vez o economista Delfim Netto disse algo genialmente trivial: capital é que nem água, corre para onde tem a menor resistência. Esta singela frase dele bem poderia resumir todo um semestre de um curso de Economia Monetária.

Quando se trata de mercado financeiro dinheiro é capital e neste sentido a metáfora serve.

Trago esse assunto a baila porque estamos nos debruçando sobre os nocivos efeitos da alta do dólar no conjunto das expectativas e temos que considerar um outro aspecto que talvez não seja tão óbvio, mas que joga papel crucial: quando o mercado perde dinheiro este se torna mais conservador, afinal como bem descreveu a medicina forense o bolso é o órgão mais sensível do corpo humano.

O mercado tem errado – e muito! – nos diagnósticos sobre o atual governo. No início do ano passado a Faria Lima acreditava que não se iria cortar os juros. Errou. Os juros caíram.

Depois que o BCB cortou a taxa não foi nem um nem dois economistas do mercado que correram para dizer que “estava tudo bem” e que a SELIC iria para 8% ao final de 2024. Erraram de novo.

Agora o mercado aposta mais uma vez na alta de juros e apesar de achar que a atual diretoria do BCB bem pode fazer isso, afinal está explícito que eles seguem as expectativas e é claro como o sol que as expectativas vão piorar com o dólar mais alto, isso pode ser mais um erro.

A alta dos juros irá acontecer num momento onde a atividade econômica mostra sinais de certa fraqueza como podemos ver na Produção Industrial ou nos desdobramentos da crise climática no Rio Grande do Sul.

Adicionalmente existe uma possibilidade não irrelevante dos EUA de fato cortarem sua taxa básica e isso pegaria no contra-pé toda a indústria financeira local que ficou “vendida” em Brasil.

Qual é o problema disso? Toda vez que o mercado perde dinheiro é como se esta liquidez fugisse do leito do rio, e sabemos bem os efeitos desastrosos que um rio desgovernado pode fazer, varre casas, escolas, hospitais e tudo mais que tiver na sua frente.

Minha maior preocupação com essa crise não é com as contas públicas (se bem que por óbvio vão sofrer), mas com o mercado. Toda a vez que se perde dinheiro isso força até os que não estão tão pessimistas a ficarem.

O gráfico abaixo ilustra bem essa situação. Se observado o Patrimônio Líquido dos fundos de investimento no Brasil os fundos de Ação e Multimercado estão estagnados, seja por conta de saques ou de perdas. Já os fundos de Renda Fixa simplesmente estão bombando.

Isso é o mercado correndo para debaixo da saia do Tesouro como que dizendo: não sei o que fazer, pega meu dinheiro e leva pra frente.

*André Perfeito – Economista

Já os gestores de ações e multimercados necessariamente irão ficar cada vez mais na defensiva tornando o ajuste das expectativas ainda mais penoso.

Por um lado é bom saber que o dinheiro está migrando para a dívida pública, afinal se não tivesse para onde correr essa água ela iria correr toda para fora do país (aka o Dólar) e aí o estrago estaria feito. Mas por outro lado fugir para a dívida pública é tirar o dinamismo do mercado financeiro.

O Planalto e o BCB tem que, urgentemente, colocar esse Rio de volta ao leito. O problema é que obras de infraestrutura custam caro, mas mais caro é ter que reconstruir cidades inteiras.