As feiras agropecuárias são eventos tradicionais e importantes para o setor rural brasileiro, representando momentos de encontro, troca de conhecimento, exposição de tecnologias e, principalmente, de negócios. No entanto, é preciso refletir sobre a maneira como esses eventos estão sendo avaliados e o impacto que isso pode ter sobre os produtores, especialmente em momentos críticos como o que os gaúchos enfrentam atualmente devido aos efeitos climáticos adversos.
A métrica predominante utilizada para avaliar o sucesso de uma feira agropecuária é o volume de negócios realizados durante o evento. A cada edição, ouvimos notícias sobre o crescimento nos números de vendas e sobre a movimentação financeira expressiva que as feiras proporcionam. Contudo, considero essa abordagem equivocada, pois muitas vezes os negócios anunciados são, na verdade, acordos artificiais, feitos apenas para inflar os números apresentados ao público e às autoridades.
Esse tipo de prática tem consequências negativas para os produtores rurais. Quando precisamos discutir com o governo a necessidade de apoio e de políticas públicas mais eficazes, como agora, quando os agricultores do Rio Grande do Sul enfrentam perdas significativas devido a cheias e secas, os números “inflados” das feiras são utilizados contra nós. O governo, ao ver esses números de vendas expressivos, pode argumentar que “está tudo bem” e que não há necessidade de maiores intervenções ou apoio financeiro. Essa falsa percepção de prosperidade pode minar nossos esforços para obter ajuda em momentos de verdadeira necessidade.
É preciso compreender que o sucesso de uma feira agropecuária não deve ser medido apenas pelo volume de vendas ou pelo impacto econômico imediato, mas pelo seu valor como um espaço de fortalecimento do setor, de fomento ao conhecimento e de promoção de novas tecnologias que realmente auxiliem o produtor no campo. A Expointer, uma das maiores feiras do setor no Brasil, poderia liderar esse movimento de mudança. Poderia inaugurar uma nova fase em que o foco principal não seja apenas os números, mas sim o valor intrínseco do evento para os produtores, para o agronegócio como um todo e para a sociedade.
A realidade dos nossos agricultores é dura, marcada por desafios climáticos, econômicos e sociais. Precisamos de feiras que, além de oferecer um espaço para negócios, sirvam como plataformas para a construção de políticas públicas mais justas e que reflitam a realidade do campo. Precisamos de um debate honesto sobre o impacto real desses eventos para o agronegócio e, principalmente, para os produtores que estão na ponta, enfrentando adversidades todos os dias.
Ao mudar o foco das feiras agropecuárias, poderemos construir um setor mais forte, mais unido e mais consciente de suas reais necessidades e desafios.
A Expointer, como um dos maiores e mais importantes eventos do setor, tem a oportunidade de ser pioneira nesse movimento, promovendo uma visão mais realista e transparente sobre a situação do agronegócio brasileiro.
Jeronimo Goergen
Presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (ACEBRA)