O ano de 2024 representa um marco histórico na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Famed/UFRGS). Há 50 anos, em novembro de 1974, a turma de formandos protagonizou uma solenidade diferente, marcada por protesto contra as condições de ensino durante o curso, e acabou inaugurando uma sequência de manifestações nas formaturas que se estenderiam até 1990. Ao longo desses 17 anos, nenhuma turma elegeu um paraninfo entre seus professores, muitas não escolheram sequer homenageados e diversas introduziram outras formas de contestação e irreverência nas colações de grau – o que teve grande impacto na época, por subverter o rito de uma cerimônia extremamente valorizada, por seu simbolismo e status social, em um dos cursos mais antigos e tradicionais da UFRGS.
Essa história é recuperada no livro Beca, Canudo e Protesto: contestação e irreverência nas formaturas da Famed/UFRGS de 1974 a 1990, de Elisa Kopplin Ferraretto e Elvino Barros. Para isso, os autores entrevistaram cerca de 100 médicas e médicos que se formaram nas diferentes turmas do periodo, além de realizarem ampla pesquisa documental. “O protesto da turma de 1974 foi contra a baixa qualidade do ensino, decorrente, principalmente, da reforma universitária introduzida pelo governo militar quando os estudantes estavam no meio do curso”, explica Elisa, ressaltando que 2024 também marca 60 anos do golpe militar no Brasil. Elvino acrescenta que se completam, ainda, 100 anos da inauguração do antigo prédio da Famed/UFRGS, na Rua Sarmento Leite, e 50 de sua perda para o Instituto de Biociências, então recém-criado no contexto da reforma universitária. “Isso abalou a Faculdade, que perdeu sua sede histórica e mesmo parte de sua identidade, o que esteve presente entre os motivos de diversos protestos realizados nas formaturas de anos posteriores”, explica o autor.
A partir dos anos 1980 – em especial, de 1984, há exatos 40 anos, quando se iniciou o processo de redemocratização do país -, os protestos nas formaturas cedem lugar à irreverência e à negação da formalidade, relacionadas ao anseio pela reconquista da liberdade de expressão. Os formandos passaram a se recusar a vestir a beca e a obedecer o protocolo tradicional, introduzindo elementos cênicos e lúdicos nas solenidades.
O livro, editado pela Libretos, com design de Clô Barcellos, é escrito na forma de uma reportagem e traz amplo material ilustrativo, além de QR-codes para acesso a um áudio e quatro vídeos de formaturas do período.
Elisa Kopplin Ferraretto é jornalista e atua como assessora da Direção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Elvino Barros é médico nefrologista, também no HCPA, e professor da Famed/UFRGS.
Lançamento: 6/11, quarta-feira
17h – Encontro com os autores na sala O Retrato do Espaço Força e Luz (Andradas, 1.223)
18h – Autógrafos na área central da Feira do Livro