Uma grande homenagem a Orlando Senna, no Estação Net Botafogo, no Rio de Janeiro, marcou a chegada às telas do mais recente longa-metragem do aclamado diretor de cinema baiano, que recebeu na última segunda-feira o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Inspirado na obra do escritor português José Saramago, em especial o romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Senna decidiu recontar com o seu olhar uma história da Bíblia. O cineasta conta que a ideia surgiu durante pesquisa realizada para um documentário, tentando entrevistar pistoleiros que matam lideranças camponesas. “Eles não quiseram gravar entrevistas, mas uma informação chocante veio à tona, trazida pelos policiais: os mandantes desses crimes preferem contratar matadores que sejam da mesma região da vítima. Segundo eles, porque assim fica mais fácil. O pistoleiro conhece a região, os hábitos e costumes de seu alvo. Metaforicamente, irmão matando irmão”.
No filme, o pistoleiro Kim, que teme a morte, comete um erro grave e será executado pela organização criminosa para a qual trabalha. Mas a organização decide encomendar-lhe outro serviço e, se o fizer bem feito, escapará do castigo. A missão: executar a líder camponesa Bel, sua irmã, a única pessoa que ele realmente ama. Um filme contemporâneo que retrata uma tragédia entre irmãos no sentido familiar – Caim e Abel –, mas também num sentido geral. Na visão do cineasta “pode acontecer entre amigos, aliados e aqueles que você pensa que estão com você, mas não estão.”
Todo o elenco é composto por profissionais baianos. O jovem ator Ícaro Bittencourt, estreando no cinema, encarna Kim e sua angústia. A estelar Emanuelle Araújo dá vida a Bel e sua coragem indomável. Os outros personagens, todos com funções dramáticas de impacto, são interpretados por Heraldo de Deus, Sonia Dias, Bertrand Duarte, Caco Monteiro, Felipe Mago, Everton Machado, Aline Brune e Lavínia Alves. “É um projeto que levou 22 anos para chegar às telas”, conta a produtora Solange Moraes, da Araçá Filmes, que apresenta o longa, realizado em 2018 na Chapada Diamantina e em Salvador, e o caracteriza como de fundamental importância, que precisa ser visto, destacando que, já no título, traz a incerteza da vitória na luta pela reforma agrária no país. “Mas acreditamos que o cinema é esse portal que, através da magia das telas, nos traz a realidade através de um drama, sem deixa de plantar uma semente de luta nas nossas mentes e corações. Acreditamos que o filme chega na hora certa como um catalisador e provocador de debates sobre o tema da posse da terra que é conflito não só no Brasil, mas do mundo”, afirma. Cineasta, escritor e jornalista, Orlando Senna é um dos ícones do cinema nacional.
Começou a produzir no cinema ainda nos anos 60. Tem mais de 30 filmes, entre longas e curta- metragens, entre eles a obra-prima Iracema, uma Transa Amazônica (1974), codireção com Jorge Bodanzky, um dos filmes mais premiados do cinema brasileiro, e com mais de 2,2 milhões de
visualizações na internet. Ajudou a implantar e coordenou a Escuela Internacional de Cine Y TV – San Antonio de Los Baños, em Cuba. Nos anos 70 trabalhou no teatro e em jornais no centro do País. Criou cursos de dramaturgia e roteiro de cinema no Brasil e fora do país. Sempre envolvido com a área cultural e de comunicação, dirigiu o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, e foi secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, de 2003 a 2007, quando assumiu a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que gere a TV Brasil. No ano seguinte assumiu a TAL – Televisão Latino Americana, uma rede de canais educativos, produtores independentes e instituições culturais da América Latina. “Longe do Paraíso”, distribuído pela Borboletas Filmes, é um dos últimos filmes dirigidos por Orlando Senna que teve mais de uma década longe das câmeras. Ao voltar, em dois anos realizou três produções: os documentários “Idade da Água” (2018) e “Sol da Bahia” (2019) e a ficção “Longe do Paraíso” (2018). Além de Porto Alegre, o filme entra em cartaz nas salas comerciais em Salvador, Vitória, Fortaleza e Rio de Janeiro.
Ficha Técnica:
Direção e roteiro: Orlando Senna
Produção: Solange Souza Lima Moraes – Sol Moraes
Produção Associada: Conceição e Orlando Senna
Fotografia e Câmera: Pedro Semanovisch
Música: David Tygel
Montagem: Luiz Guimarães Castro
Som: Fernando Cavalcante
Direção de arte: Carol Tanajura
Assistência de direção: Cecília Amado
Finalização: realizada na Visom Digital, coordenada por Carlos de Andrade.
Distribuidora: Borboletas Filmes
Serviço: Estreia do filme “Longe do Paraíso”
Onde: Cinemateca Capitólio
Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico
Quando: de 07 a 20 de novembro
Direção: Orlando Senna
Hora: 15h
Distribuidora: Borboletas Filmes
Saiba mais: @borboletasfilmes @aracafilmes @longedoparaiso