Não consigo disfarçar meu mau humor com o estado de coisas que se chegou no Brasil. Aviso há muito tempo que os erros sistemáticos de análise da Faria Lima criou uma situação onde a própria indústria financeira sofreu e que isso iria tornar o ajuste mais doloroso que o necessário. Pois bem, os erros passados estão aí na sua segunda derivada e se antes o ocaso da indústria de fundos multimercados passou o recibo dos erros de avaliação, talvez agora o problema seja muito pior.
Antes de continuar temos que qualificar a origem desse erro. A Faria Lima errou não foi porque não gosta desse governo – se aprendi uma coisa com economia é que análises moralistas são no mais das vezes erradas e rasas – mas antes por conta de vicissitudes dos próprios modelos.
Em 2023 e 2024 os economistas projetaram o PIB mais fraco uma vez que modelos de equilíbrio geral descontam a valor presente déficits fiscais de forma acentuada. O governo vai ter déficit? Logo o crescimento é menor.
Como o PIB não foi menor os economistas correram para dizer que isso ocorreu porque o PIB potencial (sic) subiu, ou seja, poderíamos crescer sem tanta inflação. O problema é que não há forma segura alguma de estimar PIB potencial, afinal esta é uma variável não observável da economia.
AÍ chegamos na segunda derivada. Ok, o PIB potencial subiu, e o que fizeram os economistas? Recalibraram o modelo e este – vejam só que coisa – mostra um PIB anta forte o ano que vem.
Contudo o PIB o ano que vem não deve ser tão mais forte e nem precisa de modelos para chegar nessa conclusão, basta fazer perguntas.
A demanda das famílias vai continuar subindo? Resposta, não.
As exportações vão continuar subindo? Resposta, não.
A taxa de juros vai cair? Resposta, não.
O gasto do governo vai subir? Resposta, não.
Dito isso o mesmo modelo padrão que errou o PIB em 23 e 24 para baixo deve errar o de 25 para cima e assim chegamos em mais uma “passada de recibo” da indústria financeira.
Se antes o erro implodiu por dentro dos fundos multimercados agora são os fundos de renda fixa, que deram dinheiro a torto e a direita para empresas, que pode sofrer.
Se as empresas estão com seu passivo no CDI e o ativo em PIB não tem muito segredo o que pode ocorrer.
Falo isso com legítima preocupação, oxalá esteja errado e a gestão dos fundos tenha sido mais precavida que estou apenas supondo, mas antes o problema era melhor, afinal a economia ainda crescia.
Uma desaceleração do PIB vai ter impactos – quem imaginaria – na queda da arrecadação, logo a novela do corte de gastos pode se alongar indefinidamente sem com isso atacar as causas.
Ontem mandei um comentário dizendo que o nome do jogo era a rentabilidade da SELIC em dólar e que essa precisa voltar ao campo positivo. Não vou me estender aqui, apenas lembrar que esse ajuste será demorado.
Não falo com nenhum prazer que o mercado errou, erra e vai errar. Não faço isso por vaidade, mas antes para que possamos pensar de forma crítica a enrascada que nos metemos.
Sobre sugestão de investimento do ponto de vista macroeconômico o Tesouro SELIC está aí para dar saída.