A UFRGS alçou na manhã desta quinta-feira, dia 17, o professor Gilberto Schwartsmann à categoria de Professor Emérito da Universidade. O título concedido a docentes aposentados, homenagem máxima da UFRGS, é um reconhecimento à trajetória de Schwartsmann na produção científica, na formação de estudantes e nas atividades culturais. Não faltaram argumentos e fatos marcantes na jornada iniciada na graduação em Medicina, em 1974, para justificar a distinção.
Oradora da cerimônia, a professora Daniela Dornelles Rosa destacou a admiração da comunidade da Faculdade de Medicina pelo professor Gilberto Schwartsmann, a ponto de o Centro Acadêmico Sarmento Leite ter criado um prêmio científico anual que leva o nome do homenageado.
Nascido em Passo Fundo, em 1955, Gilberto Schwartsmann formou-se em Medicina na UFRGS em 1979. Logo no início dos anos 1980, foi selecionado para realizar especialização em Oncologia Clínica no Middlesex Hospital, em Londres. Entre 1984 e 1988, fez doutorado em Farmacologia de Drogas Anticâncer no Free University Hospital, na Holanda.
Daniela Rosa enfatizou a capacidade de Gilberto construir pontes, fazer contatos com pesquisadores e instituições de outros países para viabilizar o intercâmbio de estudantes. Sua atuação como diretor adjunto, de 1991 a 1992, da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC, Bélgica) lhe rendeu prestígio entre vários centros de pesquisa do velho continente. Schwartsmann foi, então, convidado para estabelecer-se como professor na Holanda, mas optou por regressar ao Brasil. Em 1993, ingressou como professor da Faculdade de Medicina e médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
No HCPA, ajudou a estruturar a Residência em Oncologia, tendo sido também pioneiro nos estudos para o tratamento do câncer, com a primeira pesquisa no Brasil com avaliação da segurança e toxicidade (Fase 1) para seres humanos no desenvolvimento de medicamento para o câncer. A produção científica inclui centenas de artigos publicados, além de patentes de medicamentos.
“Se houvesse um exame para detectar a paixão pela Medicina e pela vida, o marcador sorológico seria Gilberto Schwartsmann”, sustentou Daniela Rosa, referindo-se também ao papel de orientador e mentor do professor, que deu asas a muitos estudantes como a própria oradora, que foi encaminhada para uma oportunidade internacional a partir do apoio de Schwartsmann.
Schwartsmann adentrou a Sala dos Conselhos com a professora Lucia Kliemann, diretora da Faculdade de Medicina – Foto: Rochele Zandavalli
Em seu discurso, Gilberto Schwartsmann rendeu várias homenagens aos amigos e colegas presentes. Deu ênfase a vários professores e médicos que o influenciaram ao longo de sua trajetória. “Depois de absorver tantas influências, dos pais, irmãos, parentes, amigos, gente até distante que admiramos, e de nossos professores preferidos, um belo dia nos damos conta de que temos uma identidade própria, que somos um pedacinho de cada um deles, somado a nós mesmos”, avaliou.
Gilberto Schwartsmann disse que sente orgulho de ter convivido com cinco vencedores de Prêmio Nobel. Ele lembrou que havia uma placa no antigo prédio da Faculdade de Medicina que fazia alusão à visita, em 1955, do professor Bernardo Houssay, Prêmio Nobel de Medicina e de Fisiologia. Aquela homenagem o fazia imaginar a emoção que teriam sentido professores e alunos da época. “Passadas cinco décadas, no ano de 1997, tive a honra de seguir esta mesma tradição, trazendo a Porto Alegre, como meu convidado e depois Doutor Honoris Causa de nossa Universidade, o professor Andrew Schally, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1977”, contou. Schwartsmann relatou, ainda, o contato com Aaron Ciehanover, Prêmio Nobel de Química; Richard Ernst, Prêmio Nobel de Química; James Allison, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia; e Wole Soyinka, o primeiro escritor africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura.
O docente valorizou em seu discurso a qualidade dos estudantes formados pela Universidade. “Temos de estimulá-los a desenvolver o raciocínio crítico e não temer os desafios; jamais encarar com timidez o desejo íntimo que todos temos de mudar o mundo”, sustentou. Pronunciou, então, um conselho aos professores: “Formar alunos previsíveis, sob os quais exerçamos controle intelectual é muito pouco para uma grande universidade. Nós docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul temos que formar gente com pensamento crítico e independente, temos esse compromisso com a sociedade. Um bom professor é aquele que torce para que seu pupilo voe mais alto e que venha a saber o que nós não sabemos”.
A reitora Marcia Barbosa iniciou enfatizando a justeza da homenagem que a UFRGS presta a Schwartsmann. “Professor emérito Gilberto Schwartsmann. Eu digo isso de ‘boca cheia’!”, iniciou Marcia, reconhecendo a sua admiração pelo professor. A reitora caracterizou Schwartsmann como um “cientista-orquestra”, pela produção em múltiplas esferas e suas relações científicas com muitos colaboradores. Além disso, enfatizou o talento, o trabalho e a paixão com que Gilberto Schwartsmann desenvolveu seu percurso até o reconhecimento como Professor Emérito da UFRGS.
O público que acompanhou a cerimônia lotou as dependências da Sala dos Conselhos. Acompanharam a sessão pessoas ligadas à cultura, empresários, professores eméritos, a comunidade universitária em geral, além de autoridades, como a secretária da Cultura do RS Beatriz Araujo, o secretário de Educação da Porto Alegre Leonardo Pascoal, e o presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil Silva Neto.