Algumas observações a respeito da transferência de Rogério Mendelski da Guaíba para a Band:
(1) A mudança afeta diretamente a audiência da Guaíba, emissora na qual o jornalista estava já há 12 anos e que é a quarta colocada entre as dedicadas ao jornalismo na Grande Porto Alegre.
(2) A Band ocupa a quinta posição e, com a contratação de Mendelski, pode facilmente ultrapassar a Guaíba.
(3) Para avançar ainda mais na audiência, a Band tem de fazer mudanças na cobertura esportiva, havendo boatos de que vai contratar dois grande narradores, um colorado e outro gremista. Eles revelariam, portanto, seus times de coração, algo raro no Rio Grande do Sul, mas talvez demolidor em termos de atração de ouvintes e de impacto nas redes sociais.
(4) A Band precisa cacifar ainda mais Oziris Marins, aposta da casa como contraponto forte e natural de Rogério Mendelski.
(5) A passagem de horário de um para o outro pode ser um momento interessante de debate, gerando burburinho – com “likes” e opiniões – nas redes sociais, mas depende da anuência de ambos. Mendelski é um sujeito fácil em termos de relacionamento profissional e, pelo que se sabe, não há atrito entre ele e Oziris. Existem divergências de opinião, as quais podem, colocadas em oposição, gerar ouvintes para ambos.
(6) Outra que, com o tempo ou até imediatamente, pode ser afetada é a excessivamente opinativa Pampa, a terceira entre as emissoras baseadas em conversas e notícias. A presença de Mendelski na Band, com a visibilidade dada pela transferência em si, atinge um público semelhante ao da emissora da família Gadret, mais à direita no espectro político.
(7) A Grenal, segunda rádio de jornalismo que está entre as 10 mais ouvidas (Pampa, Guaíba e Band não fazem parte do pelotão de frente), não será afetada em um primeiro momento. Como se dedica ao futebol, caso se confirmem as contratações de um narrador com a camiseta colorada e outro com a tricolor, o impacto virá no futuro.
(8) Líder geral de audiência e, há décadas, principal rádio dedicada ao jornalismo no Rio Grande do Sul, a Gaúcha não será afetada.
(9) O que pode fazer a Guaíba? São duas as alternativas:
(a) Contratar um grande nome, opção ideal, mas complicada de se realizar. André Machado deixou a comunicação para se dedicar à política. Cláudio Brito está confortável no Grupo Editorial Sinos. Oziris Marins seria uma excelente alternativa, mas ele deixaria a Band? O jornalista tornou-se fundamental como contraponto na aposta da emissora. O Grupo Record estaria disposto a investir?
(b) Apostar em alguém da casa. Quem teria potencial para fazer frente ao novo programa de Rogério Mendelski na Band? Fora Nando Gross e Juremir Machado da Silva, creio que não exista ninguém com tal potencial.
(10) A Guaíba ainda enfrenta outro problema. É de um grupo – a Record – apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro. Sem Mendelski, pende para a esquerda dentro do acirrado ambiente político?
O certo é que a contratação de Mendelski está mexendo na audiência do rádio da Grande Porto Alegre e quebrando o marasmo dos últimos tempos. E a volta de Leonardo Meneghetti para a direção da Band no Rio Grande do Sul não completou ainda nem três meses.
*Luiz Artur Ferraretto, Jornalista, Doutor em Comunicação e Professor da UFRGS