Porto Alegre, segunda, 25 de novembro de 2024
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Webinar incentiva culturas alternativas de inverno no RS. Evento organizado pela FecoAgro/RS debateu oportunidades e desafios para incremento de oferta na segunda safra gaúcha

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Foto Divulgação

 

Mais de 150 representantes de cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul reuniram-se na quinta-feira (15) em um webinar para debater alternativas que aumentem a produtividade gaúcha. O encontro promovido pela FecoAgro/RS discutiu oportunidades e desafios para o Estado ampliar o número de safras anuais — hoje defasado em relação ao restante do país. O ex-ministro da Agricultura Francisco Turra —um dos líderes da iniciativa —, o pesquisador da Embrapa Trigo Jorge Lemainski e o coordenador da Rede Técnica Cooperativa (RTC), Geomar Corassa, apresentaram dados e propostas para esse objetivo.

Presidente do Conselho Cultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra lidera o movimento chamado Otimização de Culturas de Inverno, que engloba ainda Santa Catarina. A cadeia da avicultura e da suinocultura dos dois estados está apreensiva com a possibilidade de redução da produção pela falta de insumo, especialmente do milho, para ração animal. Depois de duas quebras sucessivas no RS, a valorização do produto brasileiro no exterior e o elevado custo para importação do grão, aveia, cevada e, especialmente, o trigo e o triticale surgem como alternativa às agroindústrias, que têm na Embrapa subsídio tecnológico de equivalência nutricional dessas cultivares de inverno.

Francisco Turra Foto Manoel Petry

“Estamos perdendo 0,5% ao ano do nosso rebanho bovino. Em aves e suínos estamos crescendo, mas muito abaixo do Paraná, que tem duas safras ao ano e há 15 anos disparou na produção da região Sul. Alguns frigoríficos já estão reduzindo a produção, mas outros estão de olho nesse movimento, como a JBS. Dados da Farsul mostram que temos 1,09 safra ao ano. Então precisamos de alternativas para ocupar melhor o nosso espaço,” argumentou Turra. Como presidente da ABPA por 13 anos, Turra visitou 83 países ofertando a produção agrícola brasileira. “O Brasil é agrícola e assim somos vistos lá fora. Tudo que quisermos exportar teremos demanda lá fora. Plante que o mundo consome,” disse.

Garantias para produzir

O Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo em Passo Fundo (RS), Jorge Lemainski, demonstrou análises de equivalência nutricional dos cereais, com base nas pesquisas conduzidas na unidade de Suínos e Aves em Concórdia (SC). Segundo ele, com a utilização de trigo é possível substituir até 100% do milho na ração animal. No uso do triticale, o cereal pode substituir totalmente o milho na suinocultura e em até 85% na ração avícola. “Os números no balanço nutricional são apenas um indicativo, já que podem sofrer ajustes na indústria, variando em função da fase de desenvolvimento dos animais, da mesma forma que os resultados dos grãos podem variar a cada safra”, explicou Lemainski.

Ele mostrou, ainda, resultados no uso de cereais de inverno na pecuária, destacando que a alimentação à base de forragens, como pasto e silagem, pode representar um custo quatro vezes menor do que o uso de rações e concentrados. O coordenador da Rede Técnica Cooperativa, Geomar Corassa, trouxe dados para um sistema de produção anual no qual o produtor dobra o tamanho da propriedade quanto maior o número de safras e, por consequência, a produtividade. “Temos clima, solo, conhecimento (pesquisa), domínio das técnicas (assistência técnica) e demandas. Isso significa renda para o verão e o inverno. Com riscos minimizados, o produtor terá a rentabilidade que precisa para produzir,” afirmou.

No comando do webinar, o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, destacou o projeto realizado com a Embrapa Trigo para buscar alternativas para o trigo exportação, onde foram realizados testes em cinco áreas experimentais junto às cooperativas. “Conseguimos mostrar boas produtividades com um custo menor e houve um incremento das exportações. No ano passado exportamos mais de 900 mil toneladas de trigo”, salientou. O dirigente também falou sobre o projeto liderado por ABPA, Farsul e Embrapa. “Entendemos que é fundamental, pois temos uma certa ociosidade no inverno. Para o produtor, a ideia é diluir custos. Precisamos de uma cultura de inverno para pagar contas”.