“O melhor modelo de desenvolvimento sustentável da sociedade é o cooperativismo, por isso o Vale do Taquari vai ‘sobreviver’ ao ano de 2022. Onde há cooperativas e o associativismo bem implantados, também há sustentabilidade, eles são uma grande ferramenta para que a sociedade alcance isso. Ainda assim precisamos evoluir”, valorizou o presidente da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel, durante a palestra “Cenário econômico e perspectivas” no último Almoço Empresarial organizado pela CIC Teutônia em 2021.
O evento reuniu associados e lideranças no Auditório da entidade. “No Rio Grande do Sul, 53% da população é ligada à alguma cooperativa, que tem na sua origem aquilo que é fundamental: as pessoas. Temos muitos desafios pela frente, mas também oportunidades importantes”, continuou.
Incerteza
Abel classificou a temática do evento como algo “desafiador e incerto”, considerando o cenário brasileiro e mundial. “O comportamento da pandemia tem relação direta com o cenário que passou, o que vivemos e o que virá. Todas as projeções indicam que 2022 será um ano de desaceleração econômica. Isso tudo gera inflação mundial, com a perda da capacidade de compra da população.”
Com gráficos, o palestrante frisou que tanto o varejo como a indústria vivenciaram uma forte recuperação, mas ambos os segmentos vêm dando sinais de “perda de tração”. Já os serviços tendem a continuar a ser um vetor positivo para a atividade em geral.
O PIB brasileiro recupera em 2021 (4,9%) a queda registrada em 2020 (-4,1%). Entretanto, em 2022 esse índice é quase nulo (0,7%). “Projetamos taxa de crescimento robustas no fechamento de 2021, mas desaceleração da economia no próximo ano. Entre os riscos estão a contração do gasto público, juros elevados, desaceleração do crescimento global, crise hídrica e incerteza política e fiscal. Mas tudo isso pode mudar, vivemos tempos de uma economia muito volátil, onde qualquer ‘dorzinha de cabeça nos tonteia’. Por outro lado, entre as notícias positivas esperadas estão o processo de reabertura, as commodities valorizadas e o câmbio depreciado.”
Juros e inflação
Abel ponderou que olha com desconfiança os movimentos econômicos e políticos brasileiros. “Qualquer descontrole das contas públicas, o mercado nos aponta negativamente na avaliação de riscos. Mesmo com taxa de juros alta, os agentes não investem recursos num país com riscos altos, e isso tem relação direta com a taxa de câmbio. A única forma de segurarmos a inflação é com o aumento dos juros. A inflação é o maior mal que uma economia pode experimentar, todos são afetados pela perda do poder de compra, e as pessoas as vezes nem notam. Por isso, precisamos passar 2022 com certo cuidado.”
Chamou atenção para as operações de crédito diante dessa realidade de juros altos. “Vamos esperar. A projeção é de que a Selic comece a diminuir no fim do ano que vem. Qualquer mudança na política e na pandemia altera isso.”
Agronegócio
“O agronegócio ‘segurou a onda’ nesse período. O Brasil é um país essencialmente agrícola, devemos produzir em breve 45% dos alimentos do mundo, mas dependemos muito de fora. Parece que ainda estamos no Brasil Colônia. Não fabricamos nada de fertilizantes, precisamos importar defensivos para depois enviar o grão embora in natura”, alertou.
Sobre o Valor Bruto de Produção (VBP), afirmou que com a combinação de acréscimo na produção e preços recordes, esse indicador deve ser o segundo maior da história. “O crescimento médio nos últimos dez anos é de 4,4%, enquanto que o previsto para 2021 é de 10%.”
Abel ainda detalhou projeções para os grãos, especialmente soja e milho; para a bovinocultura de corte e leiteira; suinocultura; e avicultura.
Aprendizado
Por fim, trouxe alguns aprendizados que a pandemia pode ter trago. “Nada é mais impactante que a perda e sofrimento das pessoas com a pandemias, mas algumas coisas servem para reflexão.”
– Ressaltou a importância do setor privado em apoiar mais seus colaboradores e a comunidade;
– Mudança no comportamento do consumidor, que hoje acessa produtos e serviços que antes não estavam acessíveis;
– Diminuiu a tolerância à burocracia;
– A experiência do cliente passa a influenciar a decisão de outros consumidores;
– Transparência e práticas de disponibilização de informações confiáveis das empresas serão cada vez mais necessários (modelos de governança);
– O crédito para grandes projetos será cada vez mais condicionado a indicadores sociais e de sustentabilidade;
– A sociedade, cada vez mais, passará a exercer influência nas suas decisões de consumo e investimento observando questões de diversidade e sustentabilidade;
– A segurança digital será um foco muito importante nas empresas, independente do seu tamanho;
– Necessidade de investimento em inovação sendo vista como impulsionador de negócios;
– As empresas de sucesso terão boas lideranças, que querem bons times, que por sua vez querem autonomia para desenvolver todo seu talento.
Resumo dos números
SELIC – 9,25% (2021) e 10% (2022)
PIB – 4,9% (2021) e 0,7% (2022)
IPCA – 9,5% (2021) e 4,1% (2022)
Taxa de Câmbio – R$ 5,50 (2021 e 2022)
Representatividade
O presidente da CIC, Airton Roque Kist, agradeceu a presença, anunciando que o Almoço Empresarial, que conta com o patrocínio das cooperativas Certel, Languiru e Sicredi, retorna em março de 2022. “Estamos festejando os 22 anos da nossa entidade, nossa história confunde-se com a própria história de Teutônia. O associativismo e o cooperativismo estão na essência da CIC e do município, e a representatividade é um dos nossos pilares. Embora ainda jovem, somos a maior instituição empresarial em número de associados no Vale do Taquari, uma construção que vem ocorrendo ao longo dos anos.”