Porto Alegre, quinta, 28 de novembro de 2024
img

'Precisamos com urgência de voluntários para nossos estudos com ayahuasca', diz um dos maiores pesquisadores do país, por Giulia Vidale/O Globo

Detalhes Notícia
Em entrevista ao GLOBO, Rafael Guimarães dos Santos, da USP de Ribeirão Preto, também detalha o que está por trás do efeito terapêutico da substância. Em Rio Branco, a clínica terapêutica Caminho de Luz, usa chá de ayahuasca para tratar dependentes de drogas em sistema de internação. E o único tratamento do tipo que se tem notícia. Na foto, fila de pessoas a espera do chá. Foto Regiclay Saady/Freelancer Regiclay Saady/Freelancer

 

 

Há exatos 20 anos Rafael Guimarães dos Santos, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, se dedica ao estudo de substâncias psicodélicas, em especial a ayahuasca. No Brasil, o chá feito com duas plantas amazônicas, é utilizado em rituais religiosos como os do santo-daime. Mas um crescente número de evidências científicas mostra que ele também tem efeito no combate a doenças psiquiátricas.

Em entrevista ao GLOBO, o psicofarmacêutico detalha como a ayahuasca age no corpo e o que está por trás do efeito terapêutico. Explica como é uma sessão terapêutica com a substância e fala das dificuldades de se achar voluntários para as pesquisas com o chá.

Como a ayahuasca age exatamente no corpo a ponto de ser usada no tratamento de doenças psiquiátricas?

Ayahuasca é um chá preparado com duas plantas da Amazônia, um cipó e uma folha, que são fervidos por várias horas. Essa bebida final é um psicodélico ou alucinógeno porque causa alterações nos sentidos, no pensamento e nas emoções. A pessoa fica mais sensível. Uma metáfora que eu uso bastante para explicar o efeito dela é a do sonho desperto. Quando sonhamos, o pensamento não está linear. Ele faz conexões diferentes e isso também acontece sob o efeito da ayahuasca. A pessoa pode ver coisas com o olho aberto ou fechado. A substância então se liga a receptores de serotonina no cérebro, que estão presentes em áreas associadas ao processamento emocional, autoconsciência e introspecção. Essa são as mesmas áreas onde os antidepressivos tradicionais atuam. A ayahuasca e os outros psicodélicos também reduzem a ativação da amígdala, região que tem muito a ver com o processamento do medo. Pessoas com transtorno de ansiedade ou pânico, por exemplo, têm a amígdala hiperativa. A redução dessa ativação é um possível mecanismo de ação dessas drogas. Após uma sessão terapêutica com ela, as pessoas também ficam mais abertas a experiências, perspectivas e comportamentos.

Leia mais em O Globo