O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, disse nesta quinta-feira (23) que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões individuais dos ministros da Corte “não é necessária e não contribui para a institucionalidade do país”. Ontem (22), por 52 votos a favor e 18 contrários, a PEC foi aprovada pelo Senado. O texto segue para Câmara dos Deputados, onde não há prazo da votação da matéria. Para ser promulgada, a proposta também precisa ser aprovada em dois turnos. Pela PEC, ficam proibidas decisões monocráticas para suspender leis ou atos dos presidentes da República, da Câmara dos Deputados e do Senado. As decisões para suspensão dessas normas devem ser de forma colegiada. Além disso, os pedidos de vista dos ministros devem ser devolvidos para julgamento no prazo de seis meses, com prazo renovável por mais três.
As declarações de Barroso foram feitas durante abertura da sessão desta tarde. De acordo com o ministro, o STF não vê razão para mudanças constitucionais que alterem seu funcionamento.
“O Supremo Tribunal Federal não vê razão para mudanças constitucionais que visem a alterar as regras de seu funcionamento. Num país que tem demandas importantes e urgentes, que vão do avanço do crime organizado à mudança climática que impactam a vida de milhões de pessoas, nada sugere que os problemas prioritários do Brasil estejam no Supremo Tribunal Federal”, declarou.
Barroso também citou que o Supremo contribuiu com o país contra o “negacionismo ambiental” e durante a pandemia de covid-19, além de ser alvo dos atos golpistas de 8 de janeiro. “O tribunal sofreu ataques verbais e a criminosa invasão física que vandalizou as instalações da Corte. Após esses ataques verbais e físicos, o tribunal vê com preocupação avanços legislativos sobre sua atuação”, concluiu.
O ministro Gilmar Mendes, decano do STF, disse que alterar as regras que garantem o funcionamento do Supremo pode ser considerado inconstitucional. Mendes também afirmou que a Corte não admite intimidações. “Esta casa não é composta por covardes, não é composta por medrosos”. Segundo ele os senadores ‘ressuscitaram um cadáver’ ao pautar a proposta de autoria do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e que é preciso ‘rechaçar esse tipo de ameaça’, já que, segundo ele, o STF não é Casa “composta por covardes”.
Mendes ainda disse que os senadores favoráveis à matéria, que também pregam o impeachment de ministros do STF, são ‘propagadores do caos institucional’. E mostrou oposição à ascensão de militares nos espaços político-partidários. “Os militares continuam elegíveis. Policiais continuam a fazer carreira, se elegem e depois voltam para a Força”. Ainda segundo Mendes, as prioridades elencadas pelo Congresso “merecem ser vistas com desconfiança”. Contrariado, Gilmar afirmou que os senadores não podem “brincar de fazer emenda constitucional”. Para o ministro, os parlamentares que endossaram o avanço da PEC são falsos estadistas. “Os autores dessa empreitada começaram-na travestidos de estadistas presuntivos, mas encerram-na, melancolicamente, como inequívocos pigmeus morais”.
Já o ministro Alexandre de Moraes, garantiu que a Corte não é composta por “covardes” nem por “medrosos”. Ele afirmou que a Constituição garante a independência do Supremo.”Essa Corte não se compõe de covardes nem de medrosos. A Constituição garantiu à independência do Poder Judiciário, proibindo qualquer alteração constitucional que desrespeite essa independência e desrespeite a separação de poderes”, afirmou.
O ministro também ressaltou que o Supremo tomou medidas individuais para garantir a vacinação contra a covid e durante os atos golpistas de 8 de janeiro, mas as liminares foram referendadas pelo plenário da Corte. “A discussão de ideias, o aprimoramento das instituições são importantes instrumentos da democracia, mas não quando escondem insinuações, intimidações e ataques à independência do Poder Judiciário”, concluiu. (Redação com informações da Agência Brasil e Diário do Poder)