Porto Alegre, quarta, 27 de novembro de 2024
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Especialistas debatem eventos climáticos extremos que atingiram o RS

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Entre as ações solicitadas estão flexibilizações como a suspensão do contrato de trabalho e linha de financiamento com juros fixos de 3,75% ao ano - Foto: Maurício Tonetto/Secom

 

 

Um time de especialistas em meteorologia e hidrologia se reuniu, na tarde desta segunda-feira (27) no Espaço da Convergência da Assembleia Legislativa, para tratar dos eventos climáticos que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos meses. A audiência pública foi promovida pela Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado por iniciativa do deputado Miguel Rossetto (PT). “Nosso objetivo é acumular conhecimento para prever, preparar e proteger as comunidades para conviver com fenômenos que são globais e aqui têm se caraterizado por flutuações entre períodos de estiagem e inundações”, justificou o parlamentar.

Durante quase três horas, representantes das principais instituições que atuam na produção de dados e monitoramento de clima, explicaram como funcionam os mecanismos disponíveis para prever e alertar a população sobre eventos de riscos. O superintendente de Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA), Marcelo Medeiros, explicou como é feito o balanço hídrico pelas 23 mil estações espalhadas pelo Brasil e chamou a atenção para as variáveis que interferem no ciclo das águas, como, por exemplo, a destruição da vegetação.

A diretora do Departamento de Hidrologia do Serviço Geológico Brasileiro, empresa pública ligada ao Ministério das Minas e Energia, revelou que dos 17 sistemas de alerta existentes no país, três estão no Rio Grande do Sul, nos rios Caí, Taquari e Uruguai. Segundo Andréia Germano, o monitoramento permite verificar o aumento do nível das águas, prever o tempo de transbordamento e avisar as comunidades em risco com antecedência. Reconheceu, no entanto, que a comunicação com a sociedade não está funcionando como deveria. “As previsões são feitas com antecedência, mas não estamos conseguindo fazer com que a sociedade nos escute”, lamentou.

El Niño

Foto: Mariana Czamanski

O coordenador do Distrito de Meteorologia de Porto Alegre, Marcelo Schneider, afirmou que as temperaturas mais altas que a média estão entre as principais causas da intensidade das chuvas que atingiram o estado. Nos últimos três meses, segundo ele, a Região Norte do RS registrou chuvas quatro vezes superiores à média histórica. Schneider revelou ainda que o El Niño deverá se estender até março de 2024, mas que a maior preocupação, nos próximos meses, é com a intensidade dos temporais.

A importância de uma cadeia de dados num momento de incertezas e mudança climática foi abordada pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Guilherme Fernandes Marques. “Ou a sociedade paga por um sistema de alerta ou pelos prejuízos. E isso numa proporção de R$ 600,00 para os danos por cada R$ 1,00 para a prevenção”, contabilizou.

Parlamentares
A audiência foi acompanhada pela presidenta da comissão, Stela Farias (PT), e pelos deputados Adão Pretto Filho (PT) e Guilherme Pasin (PP). Todos ressaltaram a importância de a Assembleia Legislativa incorporar em sua agenda de debates o tema dos eventos climáticos extremos e de buscar alternativas para proteger a população e a economia do estado. “Este é o nosso novo normal, que tem colocado o Poder Público em xeque. No verão, muitos municípios ficam sem água para o consumo humano. E agora, muitos não se recuperaram de uma inundação e já enfrentam outra”, apontou Stela.

O deputado Adão Pretto Filho reclamou da falta de investimentos na Defesa Civil e na educação ambiental no Rio Grande do Sul. “A legislação sobre educação ambiental do Rio Grande do Sul foi revogada em 2019. E o orçamento para o ano que vem destina apenas R$ 40 mil para a Defesa Civil”, criticou.

Já o deputado Guilherme Pasin ressaltou a necessidade de formação de uma “fonte de dados e de pesquisa potentes para orientar as decisões dos governantes”.

A audiência pública contou ainda com a participação secretários municipais do Meio Ambiente, engenheiros, urbanistas, vereadores e ambientalistas, que cobraram o respeito às atribuições dos comitês de bacias hidrográfica definidas em lei.