O sistema de saúde está em crise no Rio Grande do Sul, especialmente nos municípios da Região Metropolitana e poderá entrar em colapso se nada for feito para melhorar a política nacional de saúde e a distribuição de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais de Porto Alegre estão no limite da sobrecarga e sem condições de dar conta dos atendimentos especialmente nos setores de emergências. A situação é tão grave que a cada ano a rede hospitalar amarga uma permanente redução nas suas condições de atendimento, tendo chegado ao limite em sua infraestrutura e sendo obrigada a operar em condições inadequadas.
O assunto foi o tema do Tá na Mesa da FEDERASUL desta quarta-feira, 3, que reuniu lideranças do setor para debater os desafios da saúde pública gaúcha do financiamento cruzado entre SUS e Planos de Saúde: a realidade do Sistema filantrópico.
Participaram o diretor-geral da Santa Casa de Porto Alegre, Júlio Flávio Dornelles de Matos; o administrador do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Luciney Bohrer; o diretor administrativo financeiro do Hospital São Lucas da PUCRS, Rogério Pontes Andrade e o presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, Jocélio Cunha. Os especialistas no assunto alertaram para a crise ressaltando a necessidade urgente de intervenção do Estado, para a definição de políticas públicas a longo prazo, para a reorganização nos repasses de valores e aumento da tabela do SUS que não é atualizada desde 2005, para evitar uma escalada ainda maior da crise.
Outro problema apontado pelos dirigentes é que apenas dois hospitais no RS, os federais Conceição e o Hospital de Clínicas concentram boa parte dos recursos recebidos da União. “Dos R$ 6 bilhões destinados ao Estado, cada um deles recebe R$ 1.9 bilhão, e o restante é destinado aos demais hospitais, além dos investimentos em vacinas e outros medicamentos.
A grande dificuldade vem sendo enfrentada pelos hospitais filantrópicos que respondem por cerca de 80% dos atendimentos do SUS no Estado. O déficit dessas instituições é tão grande que eles possuem uma dívida de mais de R$ 1.6 bilhão com o sistema financeiro, além de outros R$ 140 milhões em contas de luz e R$ 43 milhões para a Corsan. “Os hospitais filantrópicos são os verdadeiros financiadores da saúde no RS”, afirmou
O presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, Jocélio Cunha relatou que para cada R$ 100 gastos com pacientes do SUS, faltam R$ 25 nos repasses que são cobertos pelos hospitais. O administrador do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Luciney Bohrer lembrou que a crise já teria falido qualquer outra empresa.
O diretor administrativo financeiro do Hospital São Lucas da PUCRS, Rogério Pontes Andrade lembrou que mais de 80 hospitais fecharam no Estado nos últimos anos, representando a perda de mais de 538 mil leitos hospitalares.
O diretor-geral da Santa Casa de Porto Alegre, Júlio Flávio Dornelles de Matos destacou que mais de 90% dos hospitais gaúchos são filantrópicos. Criticou a falta de políticas descontinuadas para a saúde que faz com que não haja um projeto de saúde Estado trazendo insegurança para os gestores.
Outro tema abordado pelos palestrantes foi o novo modelo de remuneração do IPE-Saúde proposto pelo Governo do Estado , sem que tenha havido a possibilidade de diálogo e que agravam a situação. “Os custos crescem a cada dia, falta transparência na decisão dos governantes”, disse Júlio Flávio Dornelles de Matos.
Pesquisa
O coordenador do Grupo de Trabalho de Saúde da FEDERASUL, Luciano Zuffo, apresentou uma pesquisa realizada com 21 Associações Comerciais e Industriais do Estado, em que participaram 173 empresas (51% do setor de serviços, 31% do comércio e 17% da indústria). A mostra apontou que 63,3% das empresas não oferecem plano de saúde aos trabalhadores.
O levantamento mostrou também que do financiamento do SUS no Brasil, de R$ 538,7 bilhões, 28,5% são de responsabilidade da União, 28,5% dos Estados e 43,1% dos municípios. No Rio Grande do Sul, o total de financiamento do SUS é de R$ 13,6 bilhões.
Ao encerrar o debate o presidente da FEDERASUL Rodrigo Sousa Costa destacou que as apresentações demonstraram o quanto da saúde pública gaúcha é atendida pela rede filantrópica, da baixa, média e alta complexidade. Destacou ainda que se o superavit dos planos suplementares vem cobrindo o déficit do SUS, fica evidente o risco de colapso existente e lembrou que se o IPE se tornar deficitário para os Hospitais filantrópicos vai piorar a sustentabilidade de uma rede que responde pela maior parte da cobertura da saúde pública do Estado.