Afastado da política partidária desde 2002, quando concorreu a governador pela última vez, Antônio Britto conversou por videoconferência nesta semana com o grupo Coonline, de jornalistas gaúchos. Natural de Santana do Livramento e filho de jornalista, começou a carreira no pequeno jornal da família, antes de cursar a faculdade de Jornalismo na Ufrgs. No início da década de 70, após uma primeira passagem pela Rádio Gaúcha, transferiu-se para a Guaíba, onde chegou a coordenador de esportes e chefe de jornalismo. Em 1978, deixou a Guaíba e retornou ao grupo RBS, passando a trabalhar na TV Gaúcha. Da RBS, partiu para a editoria de política na Rede Globo em Brasília, atuando também como comentarista e apresentador. Após a eleição de Tancredo Neves, aceitou o convite para ser secretário de Imprensa do novo governo.
Na conversa com o grupo Coonline, Britto falou sobre o Jornalismo e seus enfrentamentos na era digital. “O que define o momento atual da chamada imprensa tradicional é tristeza. Primeiro, porque a maioria desses veículos vive hoje uma situação de extrema fragilidade econômica e financeira. Segundo, porque a fragilidade elimina qualquer chance de que esses veículos possam fazer as coisas que nós estávamos acostumados, e aos poucos foram desaparecendo. Coisas básicas como investigação, pesquisa e maior preocupação com os conteúdos. Profissionais acumulam funções e não têm tempo para fazer esses trabalhos que demandam dedicação, estudo e investigação. Por outro lado, a gente vê as redes sociais que viraram uma forma de emburrecer e aprisionar as pessoas, apesar do lado bom que elas também trouxeram. Eu rezo para não ficar saudoso ou pessimista”.
“Em nível mundial, quem está fazendo alguma coisa que esteja dando mais certo? São aqueles que não brigam com a tecnologia, e entendem que o velho e bom conteúdo, análise e opinião, será o grande diferencial nesse novo momento. No Brasil, a Piauí tenta fazer isso, mas eles têm um mecenas. Poder 360 é outro exemplo. A melhor cobertura sobre Saúde, por exemplo, está sendo produzida pela plataforma Jota. Em nível mundial, El Pais e New York Times são os dois grandes exemplos de sucesso por conciliar conteúdo e tecnologia. Eles fizeram a conversão para um jornalismo inovador e, ao mesmo tempo, tradicional. Inovador do ponto de vista tecnológico, pois colocam essas plataformas a serviço do bom conteúdo. No UOL, por exemplo, não se consegue ir adiante nas matérias jornalísticas, sem que surjam as chamadas e links para as notícias sobre fofocas envolvendo a vida pessoal de celebridades. E isso é o que está sustentando o grande volume de acessos às páginas. A estratégia dos grandes grupos precisa abrir mais espaços para conteúdo e jornalismo”.
Jornalismo X redes sociais
A respeito da suposta perda de credibilidade do jornalismo em relação às redes sociais, Britto lembrou que as pesquisas ainda continuam apontando maior credibilidade da imprensa tradicional, em relação às novas mídias. “Não acho que haja uma diminuição da credibilidade, e sim uma perda de influência”.
“De todos os medos que podemos ter em relação ao futuro, nenhum deles é maior do que não sabermos o que as corporações gigantescas ainda poderão fazer com a vida das pessoas, num cenário que remete às obras de ficção científica. A Europa tem, até o momento, a experiência mais avançada no sentido de enfrentar o problema, embora ainda estejam sem muito resultado, mas eles obrigam o pagamento de royalties para a utilização de conteúdo produzido pela imprensa. Essa resposta definitiva ainda será construída. São quatro os pilares que reúnem o essencial a ser pensando nesse momento: emergência climática, respeito à diversidade, democracia e inclusão. E essa mobilização parece que vai acontecer dentro da sociedade, e não por meio das antigas formas de fazer política, que eram exclusivamente dentro dos partidos. Além disso, a substituição dos partidos pelas bancadas é um fenômeno que ainda precisa ser melhor estudado”.
Abaixo a íntegra da conversa entre Antônio Britto e os integrantes da Coonline