Porto Alegre, quinta, 28 de novembro de 2024
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Eleições 2026: Para Antônio Britto 'Sendo Tarcísio, não haverá a necessidade de votar no Lula para evitar Bolsonaro'

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Antônio Britto Foto: Nelson Toledo

 

Jornalista, político e agora presidente da  Associação Nacional de Hospitais Privados., Antônio Britto conversou por videoconferência na semana passada com o grupo Coonline, formado por jornalistas gaúchos, alguns deles ex-colegas em diferentes redações. Em um momento, explica os porquês de ter largado a política. Segundo ele, foram três as razões: perdeu as eleições em 2002, precisava trabalhar e não gostava do que estava começando, mas também nem imaginava que o futuro da política brasileira seria ainda pior.

Britto relembrou os bastidores do governo Itamar Franco e as desavenças com Orestes Quércia, “que me odiava e era correspondido”. Ele contou que já trabalhava na candidatura ao Piratini, mas uma parte do PMDB nacional queria que fosse para o sacrifício, concorrendo à presidência da República quando o nome natural e mais lógico seria de Fernando Henrique Cardoso. Havia o temor de que o PMDB não sustentasse a sua eventual candidatura, justamente por causa da rixa com Quércia, que então “mandava” em boa parte do partido.

“O fracasso do PSDB é o fracasso de um partido que conseguiu duas vitórias à presidência, mas nunca conseguiu ter uma base de sustentação popular, porque não conseguia dialogar com o povo, exceto por ocasião do plano Real, que naquele momento deu uma certa popularidade ao partido, associado à nova realidade econômica. Graças ao Plano Real foi possível construir, em torno do Centro, uma maioria para eleger e reeleger alguém, inclusive convivendo mais ou menos com o Congresso. Depois o jogo mudou”. Segundo Britto, foi um grande avanço o Lula ter sido o sucessor de Fernando Henrique.

“O Brasil se enfraqueceu muito na disputa econômica global. E nós temos minério, mas não somos um país que tenha avançado nos últimos anos para constituir uma base de educação sólida que gere inovação e competitividade. Estamos defendendo commodities, em função da China. Enquanto houver bom espaço para o agro e os minérios brutos, nós vamos acomodando a situação. O Brasil não é um jogador no grande jogo da inovação. Somos meros compradores, não produzimos tecnologia. Só disputamos o campeonato da matéria-prima e do minério”.

“Num cenário global de transformações historicamente inacreditáveis, estamos há dois anos de uma nova eleição entre Lula e o Bolsonarismo e, até o momento, não tem nenhum elemento para pensar que a eleição não vá repetir, basicamente, algumas das mesmas questões e os mesmos desafios. A eleição de Lula evitou que houvesse uma eventual ruptura institucional que seria extremamente catastrófica. Da próxima vez, se não for o Bolsonaro candidato, irá aparecer uma figura que une o Bolsonarismo e ainda avança para aquela diferença percentual que elegeu o Lula neste terceiro mandato. É impressionante o que está fazendo o governador Tarcísio de Freitas em São Paulo, redirecionando a sua imagem para ser um cara do centro”. Segundo Britto, em conversas com pessoas próximas, surgiram declarações que vão ao encontro do que pensa boa parte do eleitorado que optou por Lula: “Sendo Tarcísio, não haverá a necessidade de votar no Lula para evitar Bolsonaro”.

Ainda sobre o cenário político brasileiro, Britto falou sobre o conservadorismo do eleitorado. “Não estamos diante do surgimento do pensamento conservador no Brasil, e sim da primeira manipulação desse sentimento em prol de um projeto político pessoal. O Brasil do interior sempre foi conservador. A compreensão que nós, dos setores mais democráticos e progressistas temos sobre determinadas questões modernas e morais, não é a mesma compreensão que a maioria da população brasileira tem. E isso também vale para o entendimento sobre a segurança pública. A bancada da bala e da bíblia têm perigosas fórmulas de manipular os sentimentos de medo e da questão conservadora. Não iremos sair desse impasse, sem propostas que contraponham esse discurso. A questão antiaborto não está apenas nas mãos da bancada da Bíblia, mas sim arraigada no interior do país e no pensamento conservador de boa parte da população”.

Abaixo a íntegra da conversa entre Antônio Britto e os integrantes da Coonline