Porto Alegre, quinta, 28 de novembro de 2024
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Antônio Britto: 'Lula saiu da prisão em Curitiba, elegeu-se e tornou-se prisioneiro de um Brasil que ele não reconhece.'

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Antonio Britto Foto: Nelson Toledo

 

Afastado da política partidária desde 2002, quando concorreu a governador pela última vez, Antônio Britto conversou por videoconferência na semana passada com o grupo Coonline, formado por experientes jornalistas gaúchos, alguns deles ex-colegas do agora presidente da  Associação Nacional de Hospitais Privados. Sobre Lula e os desafios de Lula no terceiro mandato, disse que: “Lula saiu da prisão em Curitiba, elegeu-se e tornou-se prisioneiro de um Brasil que ele não reconhece. Que é o Brasil de uma direita extremamente forte, de redes sociais, Arthur Lira e emendas parlamentares. Esse país o Lula não conhece e não está conseguindo manejar. De um lado, como qualquer outro presidente seria, ele torna-se prisioneiro da situação. Ao mesmo tempo, agrava um pouco essa condição por estar muito voltado a fazer coisas que têm um único defeito: elas eram valiosas num país que já não existe”.

Segundo Antônio Britto, o conservadorismo de hoje está sendo percebido como reacionarismo e tentativa de golpe. “Conservadores eram o Marco Maciel e o Aureliano Chaves, uma direita civilizada e democrática. O que temos hoje é outra coisa. Estamos num governo Lula que é extremamente importante, porque se não fosse ele seria o Bolsonaro. Mas é um governo que vai ter crescentes dificuldade para somar, crescer a base de apoio, para além da base petista histórica e de quem não queria Bolsonaro”.

Na avaliação de Britto, assim que terminar a eleição municipal deste ano, será preciso que Lula decrete o fim do primeiro tempo de jogo e monte uma estratégia diferente, “porque nesse cenário que está acontecendo parece difícil que haja um êxito econômico”. O ex-governador gaúcho entende que Lula e figuras como Celso Amorim têm enorme dificuldade para compreender esse momento de mudança global. “Embora tenham razão em algumas coisas que colocam, estão muito saudosos de um mundo que rapidamente deixou de existir. Em pouco mais de uma década, desde que o Lula havia encerrado o segundo mandato, tudo mudou.

“Eu não acho que ele esteja fazendo um governo radical, ao contrário. O Lula fala para a esquerda, mas continua o velho e bom Lula de sempre. Na hora de agir, ele dá uma caminhada para o meio. O problema é que isso não tem funcionado até o momento”. Antônio Britto também avalia que “o problema do Lula é o que ele não está fazendo”. E o governo vive uma espécie de impasse. “Eles não deixam o Hadad fazer a proposta do governo, que é a proposta Hadad. Do ponto de vista do que está mudando para o povo, o resultado até o momento é preocupante para o PT. No fundo, quem comanda tudo não é o Lula e nem o Hadad, mas o que há de pior no Brasil, expressado nessa figura que é o Artur Lira”.

Ao comentar a atuação do governo Lula em relação às pautas climáticas, Britto lembrou que, às vésperas da reunião de Belém, “nós temos o Lula precisando defender, na posse da nova presidente da Petrobras, a exploração de petróleo na margem equatorial do Amazonas. E o mais irônico, ouvir o Lula dizer que, por meio do petróleo, nós iremos fazer a transição para as tecnologias mais limpas. Só o Lula mesmo para conseguir esse tipo de declaração. Ele nem faz uma gestão inovadora, do ponto de vista do meio ambiente, e ao mesmo tempo está amarrado, o Congresso é conservador, ele não tem força para enfrentar a bancada ruralista. Onde é que a Marina ancora a sua gestão? Combate às tragédias e queimadas”.

 

Abaixo a íntegra da conversa entre Antônio Britto e os integrantes da Coonline