Colher um cacho de dendê exige força, agilidade e precisão. Quando o dendezeiro chega à fase adulta, ele fica tão alto que é necessário acoplar a foice a uma longa haste metálica para alcançar os cachos que nascem e crescem próximos ao topo da palmeira. Empunhando a geringonça desde o chão, 20 ou 30 metros abaixo, e atrapalhado pela densa folhagem, o cortador mal enxerga o cacho em formato de coração. Mesmo assim, ele dá um jeito de fazer duas incisões rápidas e cirúrgicas nas hastes que sustentam o cacho maduro. E lá se vão de 35 kg a 100 kg de frutos e espinhos palmeira abaixo. Os frutos alaranjados intercalam-se com longos espinhos, o que torna impossível pegá-los com as mãos. A tarefa caberá a um trator com garra mecânica que parece recém-saído dos filmes Mad Max. A rotina repete-se centenas, milhares de vezes por dia em Tailândia, Moju e Tomé-Açu, no Norte do Pará, há quatro décadas – tempo suficiente para a região se tornar conhecida como Triângulo do Dendê. Das plantações da região sai um óleo que, beneficiado, é usado nas indústrias de alimentos, cosméticos e biocombustíveis.
Mais recentemente, após intervenção do então presidente Lula, a Petrobras decidiu entrar nesse mercado para produzir biocombustível. Em poucos anos, porém, a estatal se viu em uma situação tão ou mais espinhosa que os cachos do dendê. A empreitada se transformou em um sumidouro de dinheiro: a Belém Bioenergia Brasil S.A. (BBB), nome da joint venture da Petrobras com a petrolífera portuguesa Galp para extrair óleo de palma em solo paraense, acumulou perdas milionárias. A assessoria da Petrobras admite prejuízo de R$ 267 milhões e diz que esse valor expressa a reavaliação do ativo da BBB ao longo dos anos, motivada por sucessivos déficits em seus orçamentos. A conta da estatal brasileira é conservadora: de 2011 a 2018, os balanços da BBB somam prejuízos de R$ 720 milhões – como a Petrobras tinha metade das ações da empresa, ficou com metade do rombo, R$ 360 milhões.
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