Porto Alegre, sábado, 07 de setembro de 2024
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O que 'sinal de OK' retratado como racista nas redes revela sobre a 'cultura de cancelamento'; BBC Brasil

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Emmanuel Cafferty comemorou com as filhas e os netos o emprego — que perdeu depois de cancelamento no Twitter. Direito de imagemARQUIVO PESSOAL

 

 

No último dia 3 de junho, o americano Emmanuel Cafferty, de 47 anos, voltava para casa depois de mais um dia de trabalho. Sua rotina era passar entre 8 e 12 horas diárias em inspeções na rede subterrânea de gás e eletricidade da cidade de San Diego, na Califórnia. Era fim de tarde e fazia calor. No volante da caminhonete da empresa, ele mantinha a janela aberta, o braço esquerdo pendendo sobre a porta do veículo. Segundo Cafferty, ele estalava as juntas dos dedos da mão esquerda com displicência, o polegar alongando os demais dedos em direção à palma da mão, um tique que repetiu algumas vezes durante a entrevista com a BBC News Brasil.

“Foi nesse momento que um homem desconhecido, com um celular e uma conta de Twitter, virou minha vida de cabeça pra baixo”, contou Cafferty.

Fazia apenas uma semana que George Floyd, um homem negro e desarmado, havia sido morto por um policial branco em Minneapolis. As imagens do assassinato de Floyd causaram o que tem sido considerada a maior onda de protestos populares contra o racismo nos Estados Unidos. Nesse contexto, o estalar de dedos de Cafferty acabou interpretado por um motorista de outro veículo como um gesto específico, um símbolo usado por movimentos supremacistas brancos.

“Esse homem começou a buzinar e me xingar. Ele gritava: “Você vai continuar fazendo isso?” E sacou o celular para fotografar. Achei que eu talvez tivesse fechado ele no trânsito, por acidente. Mas estávamos os dois parados no semáforo, eu não estava entendendo nada”, relata Cafferty.

Duas horas após o incidente, seu supervisor telefonou para dizer que ele havia sido denunciado como racista nas redes sociais e estava sendo suspenso do trabalho, sem vencimentos. Uma hora mais tarde, seus colegas chegaram à sua casa para levar a caminhonete e o computador da empresa embora. Cinco dias depois, ele estava demitido.

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