O segundo painel desta terça-feira do Fórum da Liberdade trouxe a provocação: “Reféns da milícia digital?”. Mediado pelo diretor de formação do IEE, Vítor Nunes, o encontro contou com a participação do cientista político Jason Brennan, do escritor Luiz Felipe Pondé e do sociólogo Frank Furedi. Eles falaram sobre grupos que exercem pressão para pautar a opinião pública e a cultura do cancelamento.
O escritor e filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé, acredita que, sim, a sociedade contemporânea está refém destes grupos – o que não quer dizer que não seja possível lutar contra essa dominação, ou que a liberdade de expressão esteja destruída. Para o intelectual, o potencial influenciador das mídias sociais as torna a ferramenta ideal para empoderar a irracionalidade das pessoas.
– Quando se fala em milícias digitais, não se fala em quantidade de pessoas, em qualidade da pressão exercida. O número de pessoas envolvidas pode não ser muito grande, mas são pessoas que realmente se importam com aquilo – observa Pondé.
Conforme estudos do cientista político e professor de economia e políticas públicas Jason Brennan, o suposto engajamento das pessoas em assuntos políticos nada tem a ver com a política, propriamente, e sim com participar de um grupo social. Neste contexto, se alguém criticar aquele grupo, o indivíduo o defende, seja qual for o argumento, para mostrar que é um membro “leal” daquele meio. Outro comportamento típico é o uso de discursos de moralidade, que levam à intolerância.
– Você prova que é moralmente bom tolerando menos e menos. Você mostra aos outros que não suporta alguns comportamentos porque é muito comprometido com o bem e a moralidade, o que exagera as nossas diferenças e nos coloca uns contra os outros. Este é o mecanismo existente online – resume Brennan, citando, ainda, um comportamento paternalista destas pessoas, de dizer o que os outros devem pensar.
O sociólogo e professor Frank Furedi avalia que há um impulso corrosivo nestas milícias digitais que leva à censura. O pesquisador destaca o incentivo contínuo nos Estados Unidos de uma política identitária que torna, para as pessoas, a política algo pessoalizado. Para ele, o resultado é que os indivíduos se ofendem pessoalmente com determinados pontos de vista e exigem reparações também pessoais.
– Eu me preocupo com essa polarização, de pessoas sem falar umas com as outras. Fico horrorizado com como as pessoas pedem desculpas por posicionamentos nem um pouco controversos. Temos que ser mais corajosos. Não vivemos na Alemanha nazista, podemos revidar – defende Furedi.