Porto Alegre, sexta, 26 de abril de 2024
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Memorabília: Walter Clark, o homem que vivia de sonhos... ; por Márcio Pinheiro*

Detalhes Notícia
Wlater Clark Foto: TV Globo
Nos 12 anos que esteve à frente da Globo, as revoluções promovidas por Walter Clark pareciam imediatas – e os resultados, instantâneos. Mas antes, Walter Clark já havia revolucionado. Começou cedo, aos 20 anos, na TV Rio. Lá ganhou o apelido de Vento, por passar em alta velocidade pelos corredores. Lá também começou a criar coisas que hoje parecem corriqueiras mas que ele viu primeiro: determinar os tempos dos comerciais, criar uma grade de programação, obrigar que os programas fossem produzidos pela emissora e não pelos anunciantes, valorizar o uso do videoteipe…
Contratado por Roberto Marinho em 1965, Walter Clark não parou de revolucionar. Formou uma equipe forte e homogênea – com Boni como seu fiel escudeiro –, apostou na integração nacional através da televisão, reforçou a ideia de redes afiliadas, privilegiou a linha de shows, valorizando eventos como o FIC, transmitido ao vivo do Maracanãzinho e criou produtos de qualidade tão elevadas que logo o mercado externo passou a se interessar: as novelas.
Seu reinado não se restringia aos corredores da Globo. Gostava de bares, restaurantes, carros (em especial Mercedes e Ferrari), barcos (como Cinderela, uma lancha de 37 pés, que era considerada um imóvel, não um barco) e viagens. Em seu amplo apartamento (1,2 mil metros quadrados na Lagoa Rodrigo de Freitas) e em sua ilha em Angra dos Reis, as paredes eram tomadas por quadros de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari e João Câmara Filho. E Walter Clark vivia tudo isso acompanhado de belas mulheres (Sonia Braga, Betty Faria, Regina Rozemburgo, Silvia Bandeira…) e de muita bebida.
Tamanha exposição (e exibicionismo, afinal chegou a ter um salário mensal de US$ 1 milhão) fez com que caísse em desgraça junto ao patrão e fosse demitido em maio de 1977. Mesmo jovem (40 anos) e cheio de projetos, ainda assim Walter Clark nunca conseguiu repetir o sucesso. Passou por outras emissoras (Band, Cultura…) sem deixar sua marca e acabou colhendo melhores resultados em outras áreas: futebol (foi dirigente do Flamengo na Era Zico, conquistando os mais expressivos títulos), teatro (trouxe A Chorus Line ao Brasil) e cinema (produziu Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, e Eu te Amo, de Jabor). Triste e desiludido, Walter Clark morreu em 1997. Segundo o laudo, a causa da morte foi insuficiência cardíaca e respiratória. O homem que vivia de sonhos morreu dormindo.
*Márcio Pinheiro, jornalista, escritor,  publisher do AmaJazz e pai da Lina.