Porto Alegre, quinta, 02 de maio de 2024
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'Todas as projeções indicam que 2022 será um ano de desaceleração econômica'. Presidente da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel, foi palestrante em evento da CIC Teutônia

Detalhes Notícia
Presidente da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel. Foto: Leandro Augusto Hamester

 “O melhor modelo de desenvolvimento sustentável da sociedade é o cooperativismo, por isso o Vale do Taquari vai ‘sobreviver’ ao ano de 2022. Onde há cooperativas e o associativismo bem implantados, também há sustentabilidade, eles são uma grande ferramenta para que a sociedade alcance isso. Ainda assim precisamos evoluir”, valorizou o presidente da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel, durante a palestra “Cenário econômico e perspectivas” no último Almoço Empresarial organizado pela CIC Teutônia em 2021.

O evento reuniu associados e lideranças no Auditório da entidade. “No Rio Grande do Sul, 53% da população é ligada à alguma cooperativa, que tem na sua origem aquilo que é fundamental: as pessoas. Temos muitos desafios pela frente, mas também oportunidades importantes”, continuou.

 Incerteza

Abel classificou a temática do evento como algo “desafiador e incerto”, considerando o cenário brasileiro e mundial. “O comportamento da pandemia tem relação direta com o cenário que passou, o que vivemos e o que virá. Todas as projeções indicam que 2022 será um ano de desaceleração econômica. Isso tudo gera inflação mundial, com a perda da capacidade de compra da população.”

Com gráficos, o palestrante frisou que tanto o varejo como a indústria vivenciaram uma forte recuperação, mas ambos os segmentos vêm dando sinais de “perda de tração”. Já os serviços tendem a continuar a ser um vetor positivo para a atividade em geral.

O PIB brasileiro recupera em 2021 (4,9%) a queda registrada em 2020 (-4,1%). Entretanto, em 2022 esse índice é quase nulo (0,7%). “Projetamos taxa de crescimento robustas no fechamento de 2021, mas desaceleração da economia no próximo ano. Entre os riscos estão a contração do gasto público, juros elevados, desaceleração do crescimento global, crise hídrica e incerteza política e fiscal. Mas tudo isso pode mudar, vivemos tempos de uma economia muito volátil, onde qualquer ‘dorzinha de cabeça nos tonteia’. Por outro lado, entre as notícias positivas esperadas estão o processo de reabertura, as commodities valorizadas e o câmbio depreciado.”

Juros e inflação

Abel ponderou que olha com desconfiança os movimentos econômicos e políticos brasileiros. “Qualquer descontrole das contas públicas, o mercado nos aponta negativamente na avaliação de riscos. Mesmo com taxa de juros alta, os agentes não investem recursos num país com riscos altos, e isso tem relação direta com a taxa de câmbio. A única forma de segurarmos a inflação é com o aumento dos juros. A inflação é o maior mal que uma economia pode experimentar, todos são afetados pela perda do poder de compra, e as pessoas as vezes nem notam. Por isso, precisamos passar 2022 com certo cuidado.”

Chamou atenção para as operações de crédito diante dessa realidade de juros altos. “Vamos esperar. A projeção é de que a Selic comece a diminuir no fim do ano que vem. Qualquer mudança na política e na pandemia altera isso.”

Agronegócio

“O agronegócio ‘segurou a onda’ nesse período. O Brasil é um país essencialmente agrícola, devemos produzir em breve 45% dos alimentos do mundo, mas dependemos muito de fora. Parece que ainda estamos no Brasil Colônia. Não fabricamos nada de fertilizantes, precisamos importar defensivos para depois enviar o grão embora in natura”, alertou.

Sobre o Valor Bruto de Produção (VBP), afirmou que com a combinação de acréscimo na produção e preços recordes, esse indicador deve ser o segundo maior da história. “O crescimento médio nos últimos dez anos é de 4,4%, enquanto que o previsto para 2021 é de 10%.”

Abel ainda detalhou projeções para os grãos, especialmente soja e milho; para a bovinocultura de corte e leiteira; suinocultura; e avicultura.

Próximo encontro será em março de 2022. Foto: Leandro Augusto Hamester

 Aprendizado

 Por fim, trouxe alguns aprendizados que a pandemia pode ter trago. “Nada é mais impactante que a perda e sofrimento das pessoas com a pandemias, mas algumas coisas servem para reflexão.”

– Ressaltou a importância do setor privado em apoiar mais seus colaboradores e a comunidade;

– Mudança no comportamento do consumidor, que hoje acessa produtos e serviços que antes não estavam acessíveis;

– Diminuiu a tolerância à burocracia;

– A experiência do cliente passa a influenciar a decisão de outros consumidores;

– Transparência e práticas de disponibilização de informações confiáveis das empresas serão cada vez mais necessários (modelos de governança);

– O crédito para grandes projetos será cada vez mais condicionado a indicadores sociais e de sustentabilidade;

– A sociedade, cada vez mais, passará a exercer influência nas suas decisões de consumo e investimento observando questões de diversidade e sustentabilidade;

– A segurança digital será um foco muito importante nas empresas, independente do seu tamanho;

– Necessidade de investimento em inovação sendo vista como impulsionador de negócios;

– As empresas de sucesso terão boas lideranças, que querem bons times, que por sua vez querem autonomia para desenvolver todo seu talento.

 Resumo dos números

 SELIC – 9,25% (2021) e 10% (2022)

PIB – 4,9% (2021) e 0,7% (2022)

IPCA – 9,5% (2021) e 4,1% (2022)

Taxa de Câmbio – R$ 5,50 (2021 e 2022)

 Representatividade

 O presidente da CIC, Airton Roque Kist, agradeceu a presença, anunciando que o Almoço Empresarial, que conta com o patrocínio das cooperativas Certel, Languiru e Sicredi, retorna em março de 2022. “Estamos festejando os 22 anos da nossa entidade, nossa história confunde-se com a própria história de Teutônia. O associativismo e o cooperativismo estão na essência da CIC e do município, e a representatividade é um dos nossos pilares. Embora ainda jovem, somos a maior instituição empresarial em número de associados no Vale do Taquari, uma construção que vem ocorrendo ao longo dos anos.”