Quando Glair Cardoso Bailon ingressou no curso de Medicina, em 1969, as mulheres em sua sala de aula eram apenas oito, de um total de 45 alunos. E este número estava ainda um pouco acima da média da participação feminina na área, que girava em torno dos 15%. Hoje, segundo o último levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Demografia Médica 2020, elas são 46,6% do total de profissionais atuantes no país.
Mais de cinco décadas depois, a ginecologista e obstetra de 75 anos contabiliza em torno de 8 mil partos realizados. Com orgulho, a médica se diverte afirmando que “metade de Gravataí” veio ao mundo por suas mãos. Sempre muito dedicada, ela não se lembra de passar dificuldades pelo fato de ser minoria à época, mas salienta ter sentido uma pressão maior para se destacar. “A maneira que encontrei de me impor foi sempre tentar ser melhor do que eles, estudando muito e me dedicando em dobro”, afirma.
De acordo com a pesquisa do CFM, a crescente presença de mulheres na carreira médica é nítida ainda na evolução da distribuição por sexo ao longo do último século. Até 1960, a presença masculina era de 87%, mas, a partir dos anos 1970, as mulheres ampliam sua participação e chegaram aos índices atuais de quase 50%.
Participação feminina no Simers
Acompanhando a escalada feminina no mercado de trabalho, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) ampliou a participação delas em cargos de destaque: na gestão atual são 21 no conselho diretivo. Além disso, com a regionalização das atividades da entidade, mais cinco postos de diretoria foram abertos, sendo três ocupados por mulheres: Alessandra Felicetti (Metropolitana), Daniela Alba (Sul) e Sabine Chedid (Norte).
Com cenário mais favorável para as mulheres, a médica Scarlet Orihuela, 27 anos, formou-se em agosto do ano passado e, além de estar se preparando para a Residência, a jovem já se destaca como coordenadora do Hub de Solidariedade do Simers e já foi presidente do Núcleo Acadêmico do Simers (NAS): “Ingressei como diretora no Núcleo, e estar ali dentro foi extremamente importante, pois me permitiu conhecer diversas áreas e conhecimentos que não são abordados na faculdade”.
A tendência, segundo o ProvMed 2030 – mapeamento realizado em parceria entre o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), a Universidade de São Paulo (USP) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) – é de que as mulheres sejam maioria na carreira médica até a próxima década. No momento, elas já são em maior número em algumas especialidades, como Pediatria (70%); Clínica Médica e Medicina de Família (54,2%); Ginecologia e Obstetrícia (51,5%) e Medicina Preventiva (50%,3).