Em média, realizo e participo de 20 entrevistas por semana, algumas me marcam e me dão essa rara vontade de escrever. Esta semana, no quadro Mercado BandNews, apresentado pela brilhante Juliana Rosa – grande jornalista e tradutora juramentada do anti-economês -, no Jornal BandNews Segunda Edição, que ancoro às 18h, participei de um trecho da conversa com o economista-chefe da consultoria Infinity Asset Management, Jason Vieira. Em mais de um momento, ele alertou sobre algo que já abordei nos meus espaços de Rádio e TV: as consequências do cumprimento da incongruente agenda reivindicada por ambientalistas.
Para Jason Vieira, “o mundo está trocando os pés pelas mãos”, e eu concordo. A exemplo de outros especialistas em mercado, também ele entende que a questão ESG é repleta de boas intenções e, ao mesmo tempo, existe alguma coisa estranha, porque não temos a tecnologia capaz de cumprir essas metas. “É um absurdo, tem uma roupagem de bom-mocismo e, na verdade, é extremamente nociva. Trata-se de uma grande agenda anticapitalista, por incompatível com o cenário atual. As coisas, quando as observamos sem política na cabeça, mostram que há muito mais por trás, para além dos discursos e das boas intenções”.
Apesar de existir desde 2004, o conceito ESG ainda é pouco conhecido da população em geral. ESG reúne as políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança. Sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance. O termo foi cunhado numa publicação do Pacto Global, em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins.
“Esses estímulos, por excessivos, acabaram se transformando em inflação. Não dá para brigar com a matemática”, afirmou o analista de mercado. Segundo ele, na Europa a tendência é de recessão por causa da inflação, e uma série de outros problemas com origem histórica. Isso, e mais a crise no fornecimento do gás russo. “Trump, durante conferência da ONU, chegou a citar que a Rússia iria fazer isso em algum momento, travando a Alemanha e outros países, coisa que agora se confirma na prática e, anteriormente, não havia sido levado em consideração”.
Segundo Jason, a Alemanha gerou a crise, no momento em que se posicionou para adotar a troca do parque energético, de nuclear por outros modelos que ainda não estão prontos, tecnologicamente, a ponto de substituir integralmente os reatores nucleares. “Eles terão de religar as usinas de carvão. Estão com um problema que é resultado de ações equivocadas. Não que a agenda da ONU esteja errada, apenas o tempo de cumprimento está superestimado, com metas impossíveis para um período tão curto de tempo, sem a tecnologia apropriada. E então a Alemanha, vanguarda nessas medidas, agora paga um preço inesperado. Vai faltar alimentos, e isso gera importação, consequentemente também inflação”, explicou o economista.
Recentemente, produtores rurais italianos, poloneses e alemães, resolveram somar-se aos holandeses nas manifestações que reivindicam a revisão das agendas de conversão para tecnologias menos poluentes, em diversos setores da economia, incluindo os insumos agrícolas como fertilizantes. Desde o mês passado, holandeses lideram o movimento contrário às metas de redução das emissões de nitrogênio até 2030. Os produtores contestam a agenda defendida por ambientalistas e que, na prática, vai prejudicar o abastecimento global (pecuária teria de reduzir a produção em até 30%, além da obrigatoriedade de diminuição do uso de fertilizantes).
Na Holanda, a onda de protestos tem se tornado popular, inclusive, entre a população urbana. Em meio à paralisação das atividades rurais, o desabastecimento tornou-se um problema real, com prateleiras vazias em muitos supermercados. A intensa saída de agricultores da atividade rural, garantem os analistas, vai gerar insegurança alimentar.
Mesmo subsidiados, os produtores europeus são contrários às mudanças impostas nas leis ambientais, exigindo uma drástica redução na emissão de algumas substâncias. Além das alterações que foram impostas, os produtores europeus ainda citam os recentes impactos sobre a produção global de alimentos (efeitos da pandemia, que desorganizou as cadeias produtivas e de abastecimento, e da guerra entre Rússia e Ucrânia, prestes a completar seis meses). Os alertas passam ainda pelo grande número de profissionais que estão deixando a atividade na Europa, frente a um cenário de produção cada vez mais inviável.
Recordo das minhas conversas com o Antônio Sartori, da BrasSoja, que há muitos anos repete o mantra: ” A velocidade do aumento do consumo de energia é maior do que a velocidade de aumento da produção.” O mundo segue demandando energia, não há solução sem seguirmos usando os combustíveis fósseis, “petróleo, gás e carvão seguirão sendo necessários por muito tempo na matriz energética global.” A Covid-19 desmantelou as cadeias produtivas e a guerra no leste europeu bagunçou a produção agrícola, o que fez o mundo acordar para duas necessidades: soberania alimentar (vide relatório da FAO) e soberania energética. Que sirva de alerta o que aconteceu na Alemanha, Angela Merkel reduziu a participação da Energia Nuclear e se tornou refém do gás russo. Estamos vendo nesse momento, as dificuldades que vivem alemães e vizinhos com a perspectiva da chegada do inverno na Europa.
Há tecnologia para combinar aumento da nossa produção energética e agrícola com respeito ao meio ambiente. Em 2022, o Código Florestal Brasileiro completa 10 anos, não existe no mundo algo parecido. Duvido que os estrangeiros o aplicassem em seus países. A nossa Lei trata com rigor conservação, de controle do desmatamento e de queimadas, e monitora a gestão ambiental dos imóveis rurais. Nós temos condições de seguir ampliando nossa participação mundial em todos os mercados mundiais de commodities gerando emprego, renda e riqueza para nós e mundo. O Brasil não pode cair na armadilha do discurso anticapitalista.